Diretor do Instituto de Histologia e Embriologia da FML (1979 – 1999).
Médico, investigador, docente universitário, gestor de ciência e dirigente: atividades e cargos que distinguem a vida profissional de José Francisco David Ferreira, nascido a 26 de fevereiro de 1929, em Montargil. Em 1947, David Ferreira ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa (FML), depois de ter concluído os seus estudos b no Liceu Camões, na mesma cidade. Após a conclusão do curso, em 1952, no qual já havia manifestado interesse pela área da medicina molecular, análise microscópica de células e tecidos – porventura gosto transmitido pelo seu professor Celestino da Costa, então diretor do Instituto de Histologia e Embriologia da FML – passou a colaborar profissionalmente com a FML, como “Assistente voluntário”.
Em 1960, ano em que termina o seu doutoramento com uma tese em Biologia Celular, sobre a ultraestrutura das plaquetas sanguíneas, intitulada «A diferenciação do condrioma, aparelho de Golgi e ergastoplasma: estudo ao microscópio electrónico», que lhe valeu a nota máxima de 20 valores, David Ferreira assume o lugar de “1º. Assistente de Histologia”, no Instituto de Histologia e Embriologia da FML. Anos mais tarde, em 1979, foi nomeado diretor do mesmo Instituto – um cargo de ocupou até 1999.
Em Portugal e noutros países, tais como, França, Suécia e Estados Unidos da América, primeiro como bolseiro do Governo de França, depois do Instituto de Alta Cultura (IAC) e, mais tarde, da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), David Ferreira especializou-se em ultraestrutura celular e em técnicas de microscopia eletrónica.
Após regressar a Portugal, em 1965, teve uma notável intervenção na ciência e na academia nacionais, na sua gestão, na aposta forte na formação avançada de recursos humanos, que os próprios contextos político e social do país impulsionavam, na criação de espaço e reunião de atores para o debate público em torno da atividade de investigação e do fazer ciência em Portugal.
Esta sua intervenção materializou-se enquanto professor universitário, investigador, gestor de ciência, mas também enquanto dirigente, regente de disciplinas, e também no seu associativismo ligado à ciência.
Professor e investigador de mérito, foi, como já referido, um forte impulsionador da afirmação e progresso da ciência em Portugal, destacando-se, por exemplo, a sua participação ativa na criação e instalação do Centro de Biologia do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras – principal razão profissional para o seu regresso ao país, em 1965. Igualmente em prol da afirmação da Ciência no país e do seu reconhecimento social, David Ferreira assumiu ao longo de anos uma distinta participação cívica em vários órgãos científicos associativos. Destaca-se a sua participação na criação da Sociedade Portuguesa de Microscopia Eletrónica, tendo chegado a ser presidente da mesma (em 1972, 1979 e 1988); foi sócio efetivo da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais (desde 1958), da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e da Sociedade Portuguesa de Biologia; foi presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (2006 – 2009) e vice-presidente da Comissão Diretiva da FEPASC – Federação Portuguesa de Associações e Sociedades Científicas; tomou assento em órgãos de aconselhamento nacionais, como o Conselho Nacional de Educação ou o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, e internacionais como a ECBO – European Cell Biology Organisation, e o European Medical Research Council da European Science Foundation, no qual foi delegado nacional entre 1998 e 2003; integrou o Conselho Consultivo das Ciências da Saúde do INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica e Tecnológica).
Ao longo da sua vida foram inúmeros os projetos de investigação em que participou – financiados e geridos, na maioria, pelas principais instituições financiadoras de ciência em Portugal, a JNICT e a FCT – e foram também inúmeros os artigos científicos que assinou (ca. de 80 até 1999), precisamente no âmbito da microscopia eletrónica e da medicina molecular. Foram estes projetos, estudos, intervenções e colaborações que lhe valeram o reconhecimento da comunidade científica e a consequente atribuição de prémios e distinções. Destacam-se, entre outros, os Prémios Pfizer, recebidos em 1957, 1959, 1961, 1981e 1987, a distinção de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Rio de Janeiro, em 1983.
Em 1999, ano em que recebeu a distinção de Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública, por ocasião da cerimónia da sua jubilação na Faculdade de Medicina, consta do seu Curriculum Vitae a seguinte afirmação: «Imbuído de um extraordinário espírito humanitário, sempre privilegiou os interesses institucionais, muitas vezes em prejuízo da sua própria carreira científica».
A última distinção que recebeu em vida foi a atribuição da Honor Medal, pela Faculdade de Medicina de Lisboa, em 2007, após ter ocupado o cargo de Vice-Reitor da Universidade de Lisboa (1997 – 2002).
Sobre a sua morte, consta no sítio web José Francisco David Ferreira dedicado à sua vida e obra que «O Prof. Doutor José Francisco David-Ferreira faleceu no Hospital da CUF, na madrugada do dia 07 de Fevereiro de 2012, após uma intervenção cirúrgica efectuada na véspera.»
Várias personalidades da Ciência em Portugal, tais como João Lobo Antunes, José Mariano Gago, Maria do Carmo Fonseca, entre outros, assinalaram com testemunhos e mensagens póstumas a obra e a herança que José Francisco David Ferreira deixou nos seus alunos, colegas e instituições de ciência em Portugal e no mundo.
Fontes:
«J.F.David-Ferreira – Curriculum Vitae» (resumo 1999) incluído no Programa da «Cerimónia de Jubilação do Professor David Ferreira, 1 de julho de 1999», in «Prémios, distinções e outros eventos protocolares». Arquivo de Ciência e Tecnologia. Espólio José Francisco David Ferreira. Código de referência: PT/FCT/JFDF/VAC/001/0009. Cota: 009928.
Registo de Autoridade Arquivística de José Francisco David Ferreira, elaborado pelo Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, em 23 de fevereiro de 2017.
Sítio web José Francisco David Ferreira (consultado em 20 de maio de 2020).
Atualizado março de 2022