José Francisco David Ferreira

Disponível em pdf: Registo de Autoridade Arquivística de José Francisco David Ferreira

Identificação

Tipo de entidade
Entidade singular

Forma (s) autorizada (s) do nome
José Francisco David Ferreira

Descrição

Datas de existência
Montargil, 26 de fevereiro de 1929 – Lisboa, 7 de fevereiro de 2012 

História
José Francisco David Ferreira, natural de Montargil, veio para Lisboa onde frequentou o Liceu Camões, ingressando, em 1947, na Faculdade de Medicina de Lisboa (FML). Licencia-se em Medicina em 1952. Aluno de Luís Ernani Dias Amado interessa-se pela medicina celular, assistindo aos trabalhos do Instituto de Histologia e Embriologia. Após a conclusão do curso, foi «Assistente voluntário» da Faculdade de Medicina de Lisboa, sendo contratado sucessivamente como «2º Assistente» («além do quadro», em 1955, e no quadro, em 1957) e «1º Assistente de Histologia» (em 1960). Com uma bolsa do Instituto de Alta Cultura (IAC) efetuou um primeiro estágio no Departamento de Anatomia do Karolinska Institut, em Estocolmo, completando a sua formação em França (entre 1955 e 1962), no Institut de Recherches sur le cancer/Institut Gustave-Roussy, Villejuif, onde se especializou em ultraestrutura celular e nas técnicas da microscopia eletrónica com Wilhelm Bernhard.
David Ferreira concluiu o doutoramento em 1960 pela Faculdade de Medicina de Lisboa, com uma tese em Biologia Celular. Entre 1962 e 1965 foi novamente bolseiro, desta vez pela Fundação Calouste Gulbenkian, estagiando na Harvard Medical School e no National Institute of Health/National Cancer Institute de Bethesda (EUA), onde trabalhou com Albert J. Dalton. De regresso a Portugal, participou ativamente na criação e instalação do Centro de Biologia do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e desempenhou funções como diretor do Laboratório de Biologia Celular do mesmo Centro, até 1993. No âmbito dos «Estudos Avançados de Oeiras» propôs e orientou os Cursos de Ultraestrutura Celular (1969-1970), sendo convidado a leccionar a mesma especialidade no Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1972 e 1973 e, em 1974, na Universidade do então Estado da Guanabara. Participou na criação da Sociedade Portuguesa de Microscopia Eletrónica, sendo seu sócio fundador, em 1966, e mais tarde presidente (em 1972, 1979 e 1988). Foi sócio efetivo da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais (desde 1958) e da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e da Sociedade Portuguesa de Biologia. Como docente da Faculdade de Medicina de Lisboa, à qual regressara em 1974, foi regente das disciplinas de Biologia Celular e de Histologia e Embriologia, professor extraordinário e, desde 1979, catedrático da mesma instituição. Nesse mesmo ano, integrou o Conselho Consultivo das Ciências da Saúde do INIC. Ainda no âmbito académico, David Ferreira foi promotor e coordenador científico do Centro de Biologia e Patologia Molecular da Universidade de Lisboa (CEBIP), diretor do Instituto de Histologia e Embriologia e do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina de Lisboa, coordenador do Gabinete de Apoio à Investigação Científica (GAPIC, FMUL), vice-reitor da Universidade de Lisboa, entre 1997 e 2002. Agraciado com o título de Grande Oficial da ordem da Instrução Pública em 1999, professor jubilado da Universidade de Lisboa no mesmo ano, David Ferreira deixou numerosas publicações no âmbito da biologia celular, em particular em microscopia eletrónica da ultraestrutura celular, imunocitoquímica e plaquetas sanguíneas. Interessou-se ainda pelo domínio da história das ciências médicas que procurou divulgar em diversas ocasiões. Relevante foi também a participação cívica de David Ferreira em diversos órgãos científicos associativos, como vimos, destacando-se ainda na constituição da FEPASC – Federação Portuguesa de Associações e Sociedades Científicas, criada em 20 de março de 1991, da qual foi membro (vice-presidente) da Comissão Diretiva, com Mário Ruivo e Galopim de Carvalho. Papel de destaque teve igualmente na Sociedade Portuguesa de Microscopia Eletrónica, criada em 1966 por autonomização da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, encontrando-se no elenco de fundadores e assumindo a presidência desta Sociedade sucessivamente em 1972, 1979 e 1988.
Como cientista e académico de mérito, David Ferreira foi convidado a tomar assento em órgãos de aconselhamento nacionais, como o Conselho Nacional de Educação ou o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, e internacionais como a ECBO – European Cell Biology Organisation, a cujo corpo de “governadores” concorrera em 1974, ou o European Medical Research Council da European Science Foundation, no qual foi delegado nacional entre 1998 e 2003.
David Ferreira teve como companheira de vida e de investigação Karin Lindmark (David Ferreira) que foi técnica especializada em microscopia, com a qual publicou trabalhos científicos. O trabalho de José Francisco David Ferreira no âmbito da microscopia eletrónica e da medicina molecular valeu-lhe diversos prémios, tendo sido por cinco vezes distinguido com o prémio Pfizer/SCML, o primeiro dos quais pouco depois do doutoramento, sobre a ultraestrutura das plaquetas sanguíneas (1961). Foi igualmente distinguido com o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 1983.

Lugares
Lisboa

Funções, ocupações e atividades
Investigador, professor universitário, gestor de ciência.

Mandatos / fontes de autoridade
Alvará de concessão das insígnias de Grão-mestre da Ordem da Instrução Pública, datado de 23 de junho de 1999.
Nomeação de David Ferreira para o cargo de Diretor do Instituto de Histologia e Embriologia, Ofício nº 972 da Faculdade de Medicina de Lisboa, assinado por Artur Torres Pereira e datado de 22 de julho de 1991.
Nomeação de David Ferreira no cargo de Professor catedrático a título definitivo publicada no Diário da República, II Série, nº 272, de 24 de novembro de 1982.

Contexto geral
A vida e carreira de David Ferreira acompanha a evolução da vida política, cultural e científica nacional ao longo de 60 anos, ilustrando em numerosos aspectos a conjuntura de renovação cultural operada em Portugal em meados da década de 50 renovação discreta mas firme, em parte independente das instâncias oficiais, favorável à ciência (e a outros domínios) apoiada no estabelecimento da Fundação Calouste Gulbenkian (1956). Com efeito, o sistema de apoios e bolsas de estudo criado por esta instituição rapidamente permitiu um revigoramento da massa crítica nacional ao apostar na formação avançada de recursos humanos e no reforço da infraestrutura científica em Portugal, nomeadamente com a criação do IGC – Instituto Gulbenkian de Ciência, criado em 1961 em Oeiras. Em geral esse investimento da Fundação Gulbenkian foi decisivo também no apetrechamento de laboratórios universitários portugueses com tecnologia de ponta no âmbito da microscopia, logo em finais dos anos 50 e prolongou-se imediatamente a seguir com a iniciativa de criação de um Centro de Biologia no IGC, concretizada entre 1962 e 1967. Este equipamento de nível europeu ficou desde logo habilitado a receber cientistas estrangeiros e a inscrever-se em redes internacionais de cooperação científica. Também as universidades sofreram um importante ciclo de crescimento e profissionalização, no mesmo período. Desde essa época até aos anos 2000, em particular a partir de 1974, verificou-se uma alteração de escala no que respeita ao ensino das ciências biomédicas e à investigação nas universidades. Novas formas de organização do ensino, uma mudança de velocidade na democratização do ensino superior e no acesso a novas carreiras profissionais, foram necessárias para fortalecer as instituições e diversificar as suas fontes de financiamento, no quadro de circulação alargada após a integração de Portugal na Europa Comunitária e, mais recentemente com o estabelecimento de um Espaço Europeu de Ensino Superior, conjunturas e circunstâncias que o Espólio de David Ferreira permite sinalizar e reconhecer.

Relações com outras entidades

Controlo

Regras e/ou convenções
Conselho Internacional de Arquivos – ISAAR (CPF): «Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivística para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias»; Segunda Edição, disponível em: http://www.ica.org/sites/default/files/CBPS_Guidelines_ISAAR_Second-edition_PT.pdf

Estado do registo de autoridade
Finalizado

Nível de detalhe
Médio

Datas de criação, revisão ou eliminação
2017-02-23

Língua e escritas
Português: PT

Fontes
«J.F. David-Ferreira – Curriculum Vitae» (resumo 1999) incluído no Programa da «Cerimónia de Jubilação do Professor David Ferreira, 1 de julho de 1999», in «Prémios, distinções e outros eventos protocolares». Arquivo de Ciência e Tecnologia. Espólio José Francisco David Ferreira. Código de referência: PT/FCT/JFDF/VAC/001/0009. Cota: 009928.

«Discurso proferido pelo Professor Gerson Cotta-Pereira na cerimónia de homenagem ao Professor Doutor José Francisco David-Ferreira na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no dia 1 de julho de 1999», in «Prémios, distinções e outros eventos protocolares». Arquivo de Ciência e Tecnologia. Espólio José Francisco David Ferreira. Código de referência: PT/FCT/JFDF/VAC/001/0009. Cota: 009928.

Lobo Antunes (1999): «Homenagem ao Professor José David Ferreira», rúbrica «Vultos da Medicina», Revista da Faculdade de Medicina de Lisboa, série III, nº 6 (2), in «Prémios, distinções e outros eventos protocolares». Arquivo de Ciência e Tecnologia. Espólio José Francisco David Ferreira. Código de referência: PT/FCT/JFDF/VAC/001/0009. Cota: 009928.

«Curriculum Vitae – Short version (1993)», in «Conselhos, Senados e Vice-Reitoria». Arquivo de Ciência e Tecnologia. Espólio José Francisco David Ferreira. Código de referência: PT/FCT/JFDF/VAC/001/0009. Cota: 009928.

«Currículum Vitae 1978», in «Conselhos, Senado e Vice-Reitoria». Arquivo de Ciência e Tecnologia. Espólio José Francisco David Ferreira. Código de referência: PT/FCT/JFDF/VAC/001/0009. Cota: 009928.

Notas de manutenção
Arquivo de Ciência e Tecnologia

Janeiro de 2018