Presidente da JNICT (1986 – 1989).
Ministro da Ciência e Tecnologia (1995 – 2002).
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2005 – 2011).
José Mariano Rebelo Pires Gago (Lisboa, 1948 – Lisboa, 2015) licenciou-se em engenharia eletrotécnica no Instituto Superior Técnico em 1971. Bolseiro do Instituto de Alta Cultura, nesse mesmo ano partiu para Paris onde realizou e concluiu em 1976 o doutoramento em Física, na École Polytechnique, Université Pierre et Marie Curie, com uma tese sobre a produção e transferência de energia. Ainda em 1976 começou a trabalhar no laboratório CERN – Centre Européen de Recherche Nucléaire, em Meyrin, Genebra. Como físico desenvolveu trabalhos no campo da aceleração e da colisão de partículas e das altas energias.
Até 1986, ano em que regressa definitivamente a Portugal, era residente permanente na Suíça, mas foi sempre mantendo estadias em Portugal, mais ou menos prolongadas, para colaborar em iniciativas cívicas, sobretudo em campanhas de alfabetização de adultos.
Em 1985 foi representante nacional nas negociações de adesão de Portugal ao CERN e, em 1986, fundou o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), no Instituto Superior Técnico, para mobilizar a comunidade nacional de físicos experimentais de partículas, no seguimento da adesão àquele laboratório.
Ao longo da sua vida política e académica manteve a ligação ao CERN participando ativamente como convidado orador em inúmeras iniciativas de âmbito científico, inaugurações, comemorações de datas importantes, homenagem a cientistas, e outras.
Mariano Gago foi presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) entre 1986 e 1989, cargo para o qual foi convidado pelo então Secretário de Estado da Ciência, Eduardo Arantes e Oliveira. Definiu para esta instituição pública a missão de coordenação, planificação e avaliação da ciência em Portugal, concretizada pelas Comissões Coordenadoras de Investigação e outros grupos de trabalho especializados. Durante a sua gestão foram promovidas as «Jornadas Nacionais de Investigação Científica e Tecnológica», em maio de 1987, nas quais foram lançadas as bases para um primeiro «Programa Mobilizador da Ciência e da Tecnologia» (PMCT), visando a internacionalização da ciência portuguesa, bem como a consolidação de uma cultura de informação e de trabalho em rede, promovida por cientistas e instituições de ciência. Assim, nos anos de 1987 e 1988, o PMCT permitiu o alargamento do apoio aos projetos de investigação e à formação avançada de investigadores portugueses no país e no estrangeiro.
Ainda enquanto presidente da JNICT, numa nova conjuntura nacional e internacional, foi responsável por iniciativas que marcaram a presença portuguesa nos fóruns internacionais mais significativos da época, como a Agência Espacial Europeia e o Programa Nuclear da CEE, o que veio acelerar a promoção de uma cultura informacional de rede e de partilha entre instituições, laboratórios, unidades de investigação, universidades e politécnicos.
Em 1991 Mariano Gago foi coordenador do Programa Científico da Europalia, uma mostra de arte e cultura em que Portugal foi o país convidado e que decorreu na Bélgica.
No mesmo ano, 1991, Mariano Gago fundou o Instituto de Prospectiva. Com o estatuto de associação sem fins lucrativos, o principal objetivo era promover estudos na área da prospectiva da sociedade de Portugal e da Europa e desde 1992 que, todos os anos, se têm realizado encontros no Convento da Arrábida, com o patrocínio da Fundação Oriente e da Ciência Viva. Estes encontros, focados na clarificação das condições para o desenvolvimento da sociedade portuguesa e das sociedades europeias como sociedades e economias baseadas no Conhecimento, foram coordenados por Mariano Gago até 2014 e, desde então, esta responsabilidade tem sido assumida por João Ferreira do Amaral e Manuel Heitor.
Mariano Gago foi presidente deste instituto de 1991 a 1995, de 2002 a 2005 e de 2012 a 2015. Em sua memória foi instituído o Prémio de Análise Prospectiva José Mariano Gago, promovido pela Fundação Oriente e pelo Instituto de Prospectiva, com periodicidade bianual.
José Mariano Gago foi ministro da Ciência e Tecnologia entre 1995 e 2002, o primeiro ministério apenas com a pasta da ciência e da tecnologia (XIII e XIV governos constitucionais) e entre 2005 e 2011 (XVII e XVIII governos constitucionais). Neste último, com a designação de Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, foi integrada a pasta do ensino superior que deixara de pertencer ao Ministério da Educação no XVI Governo Constitucional (2002-2005).
Enquanto ministro defendeu políticas para a Ciência, a Tecnologia e o Ensino Superior que levassem Portugal a parcerias de desenvolvimento económico e social com os outros países da comunidade europeia, numa estratégia de aproximação, para a modernização da indústria e a redução de dependência tecnológica nacional. A adesão de Portugal ao CERN é disso exemplo, tem sido fundamental na formação dos nossos cientistas e nas parcerias com as nossas universidades e indústrias em projetos de inovação tecnológica.
Considerando fundamental a democratização e qualidade do ensino e da formação para afirmar o sistema científico e tecnológico nacional, estimulou a valorização e internacionalização de investigadores e instituições científicas e de produção científica, e os seus ministérios tiveram papel relevante nos programas de financiamentos dos quadros comunitários de apoio; na dinamização e participação em encontros internacionais de Ciência; na reforma do Ensino Superior – Processo Bolonha; na criação do estatuto do Ensino Superior Particular e Cooperativo; na avaliação e acompanhamento do Ensino Superior; na reforma dos Laboratórios do Estado; na promoção da Sociedade da Informação; na iniciativa Laboratórios Associados; na definição do Plano Tecnológico Nacional.
Em 1996, através de um amplo inquérito realizado sob a condução do Observatório das Ciências e das Tecnologias, foi aferido o défice de cultura científica na população portuguesa, situação que só poderia ser alterada com o desenvolvimento de redes de conhecimento, num esforço concertado para a criação de polos de conhecimento científico de base territorial local e regional, organizados em rede.
No mesmo ano, no âmbito da atuação do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi criado o Programa de Apoio ao Ensino e Divulgação da Ciência e Tecnologia. Para o seu desenvolvimento, foi criada, na Agência de Inovação, a Unidade de Apoio para a Educação Científica e Tecnológica (U.A.E.C.T). Em 1997 passou a Unidade Ciência Viva e em 1998 a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, associação cultural sem fins lucrativos, gestora dos Centros Ciência Viva, com a missão de promover a educação científica e tecnológica da sociedade portuguesa, especialmente junto das camadas mais jovens e dos alunos dos ensinos básico e secundário, recorrendo a um reforço do ensino experimental das ciências.
O «Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal» (1997) foi um projeto de iniciativa de Mariano Gago, no qual participaram todos os ministérios, para o estabelecimento das opções estratégicas de modernização e das implicações que a Sociedade da Informação devia ter na definição das políticas de emprego, em todas as suas dimensões.
Grande promotor das Tecnologias da Informação e da Sociedade do Conhecimento em Portugal, através de iniciativas previstas no «Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal», criou programas emblemáticos, nomeadamente a iniciativa Internet nas Escolas, lançada em 1997 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, do qual era ministro Mariano Gago, e que tinha como objetivo assegurar a instalação de um computador multimédia e a sua ligação à Internet na biblioteca/mediateca de cada escola do ensino básico e secundário. Assim se generalizou o acesso às novas tecnologias com a utilização de computadores e internet nas escolas. Iniciativas determinantes de concertação do conhecimento da história, dos processos e métodos científicos, da educação e da divulgação científica em Portugal.
Das obras que escreveu destaca-se: Homens e ofícios (1978); Manifesto para a ciência em Portugal (1990); O futuro da cultura científica (1994), nas quais defendeu uma estratégia paradigmática para a educação, a internacionalização, a comunicação e a monitorização da ciência, na defesa da ciência e da tecnologia como base do conhecimento e fundamental para o desenvolvimento humano, social e civilizacional.
Foi membro da Academia Europeia de Ciência – Academia Europaea, fundada em 1988, e agraciado com o título de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada em 1992.
Em finais de 2002, Mariano Gago retomou a carreira docente no Instituto Superior Técnico, por pouco tempo, pois, tal como já foi referido, entre 2005 e 2011, foi novamente chamado à vida política. Em 2011, regressou ao LIP e ao IST como professor catedrático, tendo integrado a Comissão de Honra para as comemorações do Centenário deste instituto no mesmo ano.
Na qualidade de ex-ministro participou a nível internacional, em conferências, comités, reuniões, grupos de trabalho, conselhos de administração e conselhos consultivos.
Era presidente do LIP à data do seu falecimento em abril de 2015.
Fontes:
Arquivo de Ciência e Tecnologia: Espólio Mariano Gago [PT/FCT/EMG].
Idem: Processo individual de José Mariano Rebelo Pires Gago [PT/FCT/JNICT/DSGA-RPE-SP/001/0031/132].
Cabral, J.P. (2011). Entrevista a José Mariano Gago. Análise Social, 200(46).
Janeiro de 2023 (última atualização)