Maria Ângela Brito de Sousa

 

Fotografia de SousaInvestigadora (1964 – 2009).
Professora Universitária (1967 – 2020).
Membro do Conselho Consultivo para as Ciências da Saúde da JNICT (1986 – 1993).


Maria Ângela Brito de Sousa nasceu em Lisboa a 17 de outubro de 1939 e faleceu na mesma cidade a 14 de abril de 2020, vítima de COVID 19.

Concluiu a sua licenciatura em Medicina no ano de 1963 na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa com a dissertação intitulada Estudo das modificações do epitélio brônquico em algumas doenças bronco pulmonares crónicas.

Em 1964 vai para o Reino Unido, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, onde ingressa no Imperial Cancer Research Found, em Mill Hill, Londres, e fez a sua primeira descoberta, conhecida hoje como ‘Área T’ e cujo resultado foi publicado em 1966 no Journal Experimental Medicine com o título Thymus-dependent áreas in the lymphoid organs of neonetally thymectomized mice.

É convidada em 1967 para o Departamento de Bacteriologia e Imunologia da Universidade de Glasgow, onde apresenta o seu doutoramento em 1971 com o tema Migratory patterns of lymphoid cell populations in the mouse, cujo fenómeno viria a designar de ‘Ecotaxis’. Permanece como professora convidada até 1976.

Ainda na década de 1970 vai para os Estados Unidos da América, como professora do Departamento de Radiologia, de Harvard Medical School tornando-se membro associado e chegando a dirigir o Laboratory of Cell Ecology no Sloan Kettering Institute of Cancer Research, em Nova York. Foi também professora associada de Imunologia no Cornell Graduate School of Medical Sciences, também em Nova York.

Em 1982, em parceria com Ira Oppenheimer, funda a American Portuguese Biomedical Research Fund (APBRF), uma associação sem fins lucrativos que apoia a investigação biomédica entre os dois países, assim como jovens investigadores em início de carreira e da qual era coordenadora científica.

No seguimento da sua investigação, na doença conhecida como Hemocromatose Hereditária, regressa a Portugal em 1985, para o Porto, para o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), onde fundou o mestrado em Imunologia.

Entre 1986 e 1993, foi membro do Conselho Consultivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) para as Ciências da Saúde, onde teve um papel preponderante na tomada de decisões e orientações para a definição de uma política de Ciência. Uma das principais propostas, foi a criação de um orçamento destinado à investigação científica e que o mesmo fosse uma rúbrica do Orçamento de Estado.

Em maio de 1987 fez parte da Comissão Organizadora das Jornadas Nacionais de Investigação Científica e Tecnológica. Após a realização das Jornadas, e com a chegada de fundos europeus, foram abertos concursos para projetos e infraestruturas como resultado da programação iniciada com o evento. No âmbito das Ciências Biomédicas, foi feito um balanço onde se reconheceu a necessidade de caracterizar a comunidade científica em Portugal, estabelecendo-se um processo de avaliação de projetos apresentados a concurso para financiamento da JNICT, correspondente à área de Imunologia e Genética Molecular.

Em 1989, na qualidade de Coordenadora da Comissão de Investigação para a área da Saúde, propôs o estímulo à investigação, instituindo bolsas para áreas de investigação mais ativas e onde a exigência de definição prévia e clara de objetivos, assim como o estabelecimento de áreas prioritárias na investigação, tivessem em linha de conta as políticas de ciência definidas para o país.

Em 1990, a necessidade de quadros de financiamento plurianuais que garantissem a continuidade de projetos de investigação, assim como a integração de bolseiros nesses projetos, eram algumas das preocupações naquela época. No ano seguinte, no âmbito do Programa Ciência, foi proposto por Maria de Sousa, um método de avaliação de projetos de investigação que visasse o reconhecimento das dificuldades da comunidade científica portuguesa, realizado por painéis de avaliadores externos.

No seguimento do seu trabalho de investigadora e professora universitária, ajudou e dinamizou a criação do Programa Graduado de Biologia Básica e Aplicada (GABBA), na qualidade de membro da Comissão Coordenadora e cuja primeira edição viria a realizar-se no ano letivo 1996/1997. Este programa resultou da junção de quatro mestrados; Imunologia do ICBAS, Oncologia, e Biologia Celular da Faculdade de Medicina do Porto e Genética Humana Aplicada da Faculdade de Ciências do Porto. Este programa viria a ser reestruturado em 1998 e transformado num programa de doutoramento em 1999, reconhecido internacionalmente pela sua qualidade.

Maria de Sousa continuou a desenvolver a sua carreira como professora universitária e deu a sua última aula a 16 de outubro de 2009.

Para além do seu enorme contributo à Investigação e à Ciência foi também uma amante da Cultura. Na juventude foi estudante de piano no Conservatório, mas a escolha impôs-se cedo, medicina ou música. Da mesma forma que a sua sensibilidade para a escrita e reflexão sobre os problemas sociais, a investigação científica e a sua prática a levassem a escrever algumas notas. Em 1988 e por insistência de sua amiga Camila Miguéis, reúne alguns dos seus poemas e publica o livro A hora e a circunstância, com algumas notas de Agostinho da Silva e ilustrações de Miguel Horta. Em 2014 publica o livro Meu dito, meu escrito. De ciência para cientistas, com um monólogo da caneta. Um livro de reflexões e outros textos.

Maria de Sousa foi agraciada em vida, várias vezes, pelo seu contributo à Ciência e à Sociedade. Em 1994 é distinguida com o prémio Bial pelo seu trabalho Contribuição para a caracterização da Ecologia e da Biologia do Sistema Timo-Dependente: Memórias, Percursos e Esboço de uma nova Teoria.

Em 1995 é condecorada com o Grau de grande oficial da Ordem Infante D. Henrique, por Mário Soares.

Em 2004 é -lhe atribuído o prémio Estímulo à Excelência pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e em 2009 a Medalha de Ouro de Mérito Científico também pelo MCTES.

Em 2011 recebe o título de professora emérita da Universidade do Porto e no mesmo ano recebe o prémio Universidade de Coimbra.

Em 2012 é condecorada com o grau de grande oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada, por Aníbal Cavaco Silva e em 2016 recebe o grande colar da Ordem Militar de Santiago da Espada, por Marcelo Rebelo de Sousa.

Em 2017, recebe o prémio Universidade de Lisboa e em 2020 a Ordem dos Médicos cria o Prémio de Investigação Maria de Sousa, em sua homenagem.

Também a Fundação para a Ciência e Tecnologia lhe presta homenagem com o Concurso para Bolsas de Doutoramento com o seu nome.


 

Fontes:

Arquivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1968-1995). Comunicação com órgãos internos (PT/FCT/JNICT/DIR/009), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Arquivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1989-1994). Comissão Coordenadora de Investigação Saúde (PT/FCT/JNICT/DIR), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Arquivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1997 – 2004). Programa Graduado em Áreas da Biologia Básica e Aplicada (GABBA) (PT/FCT/FCT/CD), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Arquivo José Mariano Rebelo Pires Gago (1987-1989). Ciências da Saúde (PT/FCT/MG), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Sousa, M. de (1968-1995). Projeto “Células do Sistema Imune na Hemocromatose Hereditária”  (PT/FCT/JNICT/DSPP-DGP), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia

Webgrafia (acedida em agosto de 2022):

Oliveira, Maria João (2020, maio). Lista bibliográfica: Maria Ângela Brito de Sousa, 1939-2020. Rómulo.

Presidência da República Portuguesa (2011). Ordens honorificas portuguesas.

Santos, Júlio Borlido (2018, outubro 21). Maria de Sousa galardoada com o Prémio Mina Bissell. Notícias, Universidade de Porto.

TVU (2009, outubro 16). Jubilação e última aula de Maria de Sousa [Vídeo]. TVU. Universidade do Porto.

 

Agosto de 2022