Maria Beatriz de Oliveira Ruivo

 

Investigadora na área das Políticas Públicas de Ciência e Tecnologia (1963 – ).
Professora Associada da Universidade de Aveiro (1996 – 2001).
Gestora de Projetos de C&T (1973 – 1984).


Maria Beatriz de Oliveira Ruivo, nasceu em Évora a 20 de junho de 1940, é uma investigadora que dedicou a sua carreira às políticas de Ciência e Tecnologia (C&T) em Portugal. Estudou na Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa (FCL) e desenvolveu trabalhos em institutos nacionais, consolidando a sua formação na Universidade de Manchester com um doutoramento em Políticas de Ciência e Tecnologia em Portugal.

Desenvolveu trabalhos em diversos institutos, o que lhe permitiu uma experiência e visão da produção científica vigente na Europa, sobretudo nos anos de 1960 e 1970. Durante a década de 1970, inicia trabalho na Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), onde desenvolve e coordena trabalhos relacionados com as políticas de desenvolvimento científico em Portugal, num período de grande mudança de paradigma, no que diz respeito à prática científica nacional.

Na sua formação de base, concluiu a sua Licenciatura em Ciências Físico – Químicas em 1963, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) (antiga Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa, FCL) e entre 1975 e 1977 frequentou uma licenciatura de especialização em Desenvolvimento Económico no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).

Esteve como «Individual Study Fellow» no Institute of Development Studies da Universidade de Sussex, onde trabalhou na área de Desenvolvimento Económico e Política Científica, sobretudo para Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia, como bolseira de Cooperação Técnica do British Council e equiparada a bolseira pelo INIC entre 1979 e 1980.

Defendeu o seu doutoramento na Universidade de Manchester, no Department of Science and Technology Policy da Faculty of Sciences com o tema «As Políticas Científicas em Portugal entre 1967 e 1987», tendo obtido uma equivalência do grau, reconhecido pelo Instituto Superior Técnico (IST) em 1992.

Ainda estudante, em 1962, trabalhou em Eletroquímica no Centro de Estudos de Energia Nuclear como bolseira do Instituto de Alta Cultura e entre 1963 e 1964, na Faculdade de Ciências de Lisboa, na qualidade de bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), no Laboratório de Micologia na então recém-criada área de Biofísica aplicada à Microbiologia, a convite de Nicolas Van Uden.

De 1964 a 1966, trabalhou no Centro de Estudos de Antropologia Cultural da Junta de Investigações do Ultramar, como investigadora, onde contacta com António Jorge Dias, antropólogo e professor na Faculdade de Letras de Lisboa, e chega a frequentar a disciplina de Geografia Humana de Orlando Ribeiro.

Ainda em 1966, prestou apoio na área da Bioquímica no Laboratório de Microbiologia dos Laboratórios de Química e Biologia do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII) e cuja saída se ficou a dever a informação da polícia política, muito injustificada e injusta[1].

Mais tarde, chegou a inscrever-se no Bacharelato em Economia, criado na Universidade de Lourenço Marques, onde frequentou Economia e Finanças, assim como Direito e Contabilidade, o que viria a ser útil quando coordenou o Serviço de Programas e Projetos (SPP) da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT). Quando regressa de Moçambique, no início da década de 1970, inscreve-se no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, futuro ISEG, onde frequenta a disciplina de História, com docência de Joel Serrão.

No ano de 1967 trabalhou, enquanto bolseira da FCG, no primeiro semestre e no segundo semestre, como bolseira da INVOTAN, no Centro de Estudos de Bioquímica do Instituto de Alta Cultura, instalado na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, com Francisco de Carvalho Guerra.

Entre 1968 e 1969, regressada à Junta de Investigações Científicas do Ultramar, na situação de equiparada a bolseira, aceita uma bolsa de estudos de Cooperação Técnica do Ministère des Affaires Étrangères de France no Institut Oceanographique em Paris, e mais tarde, na Station Marine D’Endoume em Marselha.

Já em 1969, na Noruega, frequentou um curso em Química Oceanográfica através do International Council for the Exploration of the Sea (ICES) / UNESCO, subsidiado pelo Institut for Marine Biologii de Oslo, onde realizou um estágio sobre Poluição.

Entre 1970 e 1973 liderou o Laboratório de Química Oceanográfica da Missão de Estudos Bioceanológicos e de Pescas de Moçambique e o Laboratório de Limnologia Química do Instituto de Investigação Científica de Moçambique, ambos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar e onde trabalhou com a equipa encarregue de estudos hidrográficos da barragem de Cahora Bassa, em particular das alterações ecológicas provocadas pela sua construção, sendo da sua responsabilidade o projeto da parte de limnologia Físico-Química. Colaborou também com o mesmo instituto no projeto de estudo de poluição química por pesticidas da Baia de Lourenço Marques, atual Maputo, em Moçambique.

Em 1973 inicia funções na JNICT onde desenvolve trabalhos de orientação de políticas para a atividade científica em Portugal, assim como a gestão de projetos que visaram a dinamização da atividade em Portugal.

Entre 1974 e 1979 fez acompanhamento e estudo das modificações orgânicas e das formas de gestão das unidades de investigação e participou no delinear e execução de ações experimentais de ligação entre as Unidades de Investigação e a Indústria e depois, no princípio da década de 1980, a Agricultura.

Participou na primeira fase da preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento em 1977, assim como nos estudos de base da experiência de coordenação das atividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D) em Portugal através da aplicação de uma análise sistémica designada «Ação de Fundo» entre 1976 e 1978, assim como no relançamento e gestão do Programa de Bolsas de Especialização Técnica no biénio 1978/1979.

Colaborou no estudo sobre direitos de autor e direitos sobre patentes por parte de investigadores a trabalhar em unidades de investigação estatais e universitárias, entre 1980 e 1982.

Em 1982, por Despacho Interno do Presidente da JNICT, foi nomeada, em substituição, coordenadora do Serviço de Programas e Projectos (SPP).

Foi responsável pela área de «Recursos Humanos para a Ciência e Tecnologia» do Serviço de Programas e Projetos (SPP), criada em 1976, onde desenvolveu trabalhos sobre a carreira de investigação e estatuto do investigador até 1983.

Desde 1984, por Despacho Interno do Vice-Presidente em exercício na JNICT, foi inserida no Gabinete de Apoio à Presidência e aí, como assessora, desempenhou funções de assessoria técnica para os assuntos de política científica e recursos humanos. Tal condição permitiu assistir à entrada de José Mariano Gago como Presidente da JNICT, em 1986, «e a esse período fulgurante na dinamização da Ciência em Portugal»[2].

Teve a seu cargo a coordenação e gestão do programa «Ciência Tecnologia e Sociedade» desde junho de 1987. Este programa visava a promoção da realização de projetos de investigação nas áreas de história das ciências e tecnologias, filosofia e sociologia do conhecimento científico e tecnológico, assim como economia e gestão da ciência e tecnologia bem como o ensino de ciência e tecnologia.

Foi ainda representante da JNICT no Conselho Consultivo sobre o Sistema Nacional de Projetos e Consultoria, junto do Secretário de Estado da Investigação Científica. E por Despacho Interno do Presidente da JNICT, foi nomeada coordenadora do Grupo de Trabalho sobre o Estatuto do Bolseiro.

Consultora da Comissão da Condição Feminina da Presidência do Conselho sobre a Mulher e o Ensino Superior e a Investigação Científica desde 1985 e, membro do Conselho Consultivo da Associação Portuguesa do Ensino Superior em 1986.

Ainda em representação da JNICT, foi Secretária Técnica da Comissão permanente de Estudos do Espaço Exterior entre 1981 e 1982. Participou nas reuniões para discussão do «Plano a Médio Prazo de 1976», foi coordenadora do Grupo de Trabalho Nacional de utilizadores de estatísticas de I&D em 1977, membro do grupo de trabalho para a elaboração do projeto de Estatuto da Carreira de Investigação Científica do Estado na Secretaria de Estado do Ensino Superior e Investigação Científica em 1978. Fez parte do Grupo de Trabalho de «Recursos, Emprego e Formação Profissional» dos trabalhos preparatórios das grandes Opções do Plano a Médio Prazo para 1979 a 1984.

Em 1977 foi membro do “2th ad-hoc review group” de avaliação de estatísticas de I&D da OCDE.

Representante de Portugal no Workshop “Measurement of stocks of scientific and technological personnel” organizado pela OCDE Science and Tecnology (S&T) indicators unit/Directorate for Science, Technology and Industry (DSTI) realizado em Paris em 1981.

Por Despacho do Ministro da Cultura e da Coordenação Científica, foi nomeada para coordenadora do Grupo de Trabalho para o estudo e elaboração de um projeto de diploma de declaração de utilidade pública das sociedades científicas e associações afins, em 1983.

Presidente do International Meeting of Experts on “reflection on Women’s problems in Research and Higher Education” organizado pela UNESCO e realizado em Lisboa em 1985.

Co-organizadora do Seminário «A Mulher e o Ensino Superior e a Investigação Científica e as Novas Tecnologias em Portugal» organizado em Lisboa em 1986.

Foi fundadora, com Rui Namorado Rosa e Elsa Anahory em 1965, da página científica «Vida Científica /Ciência», com publicação semanal no vespertino Diário de Lisboa, sendo uma das suas responsáveis entre 1965 e 1968.

Em 1974, esteve na reunião, realizada nas instalações do LNEC, na qual foi aprovada a criação da Organização dos Trabalhadores Científicos, de que foi membro da segunda Direção Nacional.

No princípio dos anos 1990, foi Investigadora Convidada do Instituto de Prospetiva, onde participou no estudo «Prospetiva do Ensino Superior em Portugal».  No ano de 1993, utilizando o regime de licença sem vencimento na JNICT, esteve no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), onde assistiu e produziu um pequeno estudo sobre o projeto de reflexão interna em curso para a reorganização da instituição.

Em outubro de 1995, por Despacho Interno do Ministro da Ciência e Tecnologia (MCT), foi membro do Grupo de Trabalho de reflexão sobre a estrutura organizativa da política de Ciência e Tecnologia (C&T).

Em 1996 é Professora Associada Convidada pela Universidade de Aveiro, onde coordena o mestrado em Gestão de Ciência Tecnologia e Investigação (GCTI) e leciona as disciplinas de Políticas de Ciência e Tecnologia e Sistemas de Ciência e Tecnologia. No mesmo ano é convidada para o Gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia, José Mariano Gago, para proceder à elaboração de um relatório de análise da evolução das políticas de C&T em instâncias internacionais, assim como a elaboração de recomendações com vista à institucionalização da atividade científica em Portugal. É também membro consultivo para o «World Science Report da UNESCO».

Ao nível da Investigação teve sempre interesse na Carreira dos Investigadores Científicos, assim como na evolução das estruturas de atividades de I&D e no modelo de organização das políticas de Ciência em Portugal, o Ensino Superior e a «produção de pessoal especializado» e claro, a representação das mulheres no Ensino Superior e na Investigação & Desenvolvimento (I&D). Entre 1996 e 2001 fez parte do projeto «Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional» desenvolvido na Universidade de Aveiro ao abrigo do programa PRAXIS.

Atualmente encontra-se aposentada, mas ainda muito ativa na publicação de trabalhos, assim como crónicas em jornal de referência e alguma investigação no âmbito de C&T.

[1] Informação da própria Beatriz Ruivo, em notas de apreciação da presente nota biográfica.

[2] Palavras da própria Beatriz Ruivo.


 

Fontes:

Arquivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia (1996 – 2004). PRAXIS/PCSH/OUT/0180/96 [I] (PT/FCT/FCT/DPP/001/2350), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Arquivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia (1996 – 2002). PRAXIS/PCSH/OUT/0180/96 [II] (PT/FCT/FCT/DPP/001/2351), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Arquivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (1988 – 1991). Maria Beatriz de Oliveira Ruivo (PT/FCT/JNICT/DSPP-DFACC/002/0178/1322), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Arquivo José Mariano Rebelo Gago (1994). Congresso «Portugal que futuro?» – Investigação (PT/FCT/MG/IP/009/0010), Arquivo de Ciência e Tecnologia, Lisboa, Fundação para a Ciência e Tecnologia.

 

Novembro de 2023