João Manuel Gaspar Caraça

 

Fotografia de João CaraçaPresidente da JNICT (1979).


Filho do matemático e humanista Bento de Jesus Caraça e de Cândida Ribeiro Gaspar Caraça, natural de Lisboa, cidade onde nasceu em 22 de agosto de 1945, João Manuel Gaspar Caraça frequentou o Liceu Pedro Nunes, tendo sido aluno de Rómulo de Carvalho. Ingressa no Instituto Superior Técnico onde obtém a licenciatura em Engenharia electrotécnica, no ano de 1969. Em 1972, conclui o Doutoramento em Física Nuclear pela Universidade de Oxford, com uma tese intitulada «Electromagnetic properties of light protón-rich nuclei». Com este trabalho obtém, em 1973, a equivalência ao grau de Doutoramento pela Universidade de Lisboa.

João Caraça iniciou a sua carreira profissional ao serviço da Junta de Energia Nuclear, ingressando nos quadros do Laboratório de Física e Engenharia Nuclear, em 1968, como assistente especialista de 2ª classe, mais tarde (1982) nomeado investigador principal do quadro de pessoal do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, por Despacho publicado no Diário da República, 2ª série, nº 77/82 de 2 de abril. Foi Presidente da Comissão de Gestão da Junta de Energia Nuclear de 1975 a 1977, e Governador da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), por parte de Portugal, no período 1976-1977. Manteve-se naquela Junta/LNETI até 1 de julho de 1978, data em que iniciou funções em «comissão de serviço» como Diretor do Serviço de Planeamento e Projectos da JNICT.

Professor com agregação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, João Caraça é proposto como relator do Grupo de Trabalho constituído na JNICT, em 1980, tendo em vista o projeto «Estudo da metodologia a adoptar na definição das bases da política científica e tecnológica». Integrava esse Grupo de Trabalho, o CITED – Conselho Consultivo de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento -, e um conjunto de técnicos do SPP. No âmbito desse estudo, foi solicitada a colaboração de técnicos especialistas da Unesco, para a correta aplicação de um «método para o estabelecimento e a determinação de prioridades», de identificação de áreas prioritárias de investimento e de um quadro de referência de investimento prioritário para o setor da Ciência Tecnologia e Inovação. Na mesma época, João Caraça fez parte da comissão organizadora da «Conferência Internacional de Física de Altas Energias» que se realizou pela primeira vez em Lisboa, em 1981, com o patrocínio da Sociedade Europeia de Física (European Physical Society, EPS) e foi secretário do Conselho Consultivo de Ciência e Tecnologia da JNICT, até 1982, data em que cessa a sua comissão de serviço na Junta.

Parte da atividade de João Caraça na JNICT coincide com a presidência de José Caetano Mendes Mourão. Nessa medida, será ele o nomeado para substituir o presidente nas suas ausências temporárias, facto atestado no Despacho da Secretaria de Estado do Planeamento, do Ministério das Finanças e do Plano, sob cuja tutela se encontrava a JNICT[1]. Quando José Mendes Mourão é chamado a desempenhar funções de Secretário de Estado da Ciência no breve tempo de vigência do V Governo Constitucional[2] de Maria de Lurdes Pintassilgo, João Caraça é nomeado presidente da JNICT, em regime de substituição, cargo que desempenhará de agosto a dezembro de 1979. No período em que exerceu funções como presidente da JNICT, foi igualmente secretário-geral adjunto da Sociedade Portuguesa de Física e representante de Portugal no Conselho da Sociedade Europeia de Física. Ainda na JNICT, publicou o relatório «Prioridades em Ciência e Tecnologia: Identificação de áreas prioritárias para I&D» (1981).

Esteve à frente do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian até 2011, tendo sido o responsável editorial da «Colóquio/Ciências, Revista de Cultura Científica», entre 1988 e 2000. A sua bibliografia inclui um importante conjunto de trabalhos sobre a problemática da gestão de Ciência e Tecnologia, de onde se destaca a obra «Do saber ao fazer: Porquê organizar a ciência?», publicada em 1993, bem como diversas reflexões sobre o papel social, político e cultural da Ciência, a divulgação científica, na época contemporânea. Diretor da Delegação Francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris até finais de 2016, foi por duas ocasiões distinguido com as insígnias de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada, em 1992, e com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique em 2017.

Presidiu ao Conselho Geral da Universidade de Coimbra de 2017 a 2020.

É Presidente do Conselho Geral da Associação Bento de Jesus Caraça, desde 2018.

 

[1]  Veja-se o Diário da República nº 238/1980, 2ª série, de 14 de outubro.

[2] De acordo com o relatório «Actividade da secretaria de estado da ciência (V Governo constitucional) – 7 de agosto de 1979 – 2 de janeiro de 1980», onde se estabelece o balanço da breve actividade governativa assinado por José Mendes Mourão, secretário de Estado da Ciência, é referido (p.2, al.b) «O mesmo programa [do Governo] consagrou a importância da ciência e da tecnologia por forma tão relevante que dedicou pela primeira vez a tal sector o nível de uma secretaria de estado, na “intenção de proceder à progressiva definição de uma política científica».


 

Fontes:

João Caraça (1993): «Do saber ao fazer: Porquê organizar a ciência?»; Lisboa, Gradiva.

Idem (1983): «O financiamento das actividades de investigação e desenvolvimento experimental (I&D) no médio prazo», in «Análise Social», 3ª série, vol. XIX, nº 76, 1983-2º.

 

Março de 2022