Identificação
Tipo de entidade
Entidade singular
Forma (s) autorizada (s) do nome
Fernando Roldão Dias Agudo, Dias Agudo
Descrição
Datas de existência
Mouriscas, Abrantes, 25 de novembro de 1925 – 23 de fevereiro de 2019
História
Matemático, professor universitário, administrador público de ciência e tecnologia, Fernando Roldão Dias Agudo frequentou o Liceu de Santarém onde foi aluno do matemático Silva Paulo, antes de rumar a Lisboa, em 1943, para frequentar a Licenciatura em Ciências Matemáticas na Faculdade de Ciências de Lisboa. Licenciou-se em 1947 com tese «Sobre um Teorema de Kakeya» que lhe valeu desde logo o Prémio Nacional Francisco Gomes Teixeira. Colabora com a prestigiada Gazeta de Matemática, desde 1948, ali dando a lume a nota «Uma aplicação da Geometria Projectiva ao problema das imagens eléctricas», logo seguindo-se «Um teorema sobre a estrutura dos divisores de um grupo». É então assistente do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.
Frequenta o Curso de Engenharia do Instituto Superior Técnico que conclui em 1951, antes de regressar à Universidade de Lisboa onde apresenta o Doutoramento em Matemática, em 1955, com o tema «Sobre a equação característica de uma matriz». Primeiro assistente de Matemática na Faculdade de Ciências, bolseiro da Fundação Gulbenkian, entre 1957 e 1958, Fernando Dias Agudo passa uma temporada nos Estados Unidos da América como investigador visitante da Universidade de Berkeley (Califórnia). Em 1960, publica «Introdução à Álgebra Linear e Geometria Analítica», obra de referência sucessivamente reeditada e reimpressa. Em 1963, realiza provas de concurso para o lugar de professor extraordinário de Análise e Geometria da Faculdade de Ciência, apresentando um trabalho sobre «Operadores lineares do espaço de Hilbert». Em 1964, é membro do Júri do Prémio Gazeta de Matemática/Fundação Calouste Gulbenkian.
No contexto do «Plano Intercalar» [de Fomento], de 1966-1968, Dias Agudo assume o cargo de coordenador da equipa-piloto encarregue de efetuar o levantamento das necessidades em matéria de Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento económico e social. Data dessa época a inscrição da investigação científica como matéria de planeamento, em duas “rubricas” complementares: a investigação universitária e a investigação exterior ao ensino (institutos, laboratórios, indústria). Embora reconhecendo a unidade fundamental da atividade científica, Fernando Dias Agudo assumirá sempre a importância da investigação universitária em Portugal, em particular – face às deficiências crónicas de escala e de financiamento e face à míngua de estruturas industriais capazes de absorver e estimular por si só a investigação científica -, o que fará em «As universidades portuguesas e a investigação científica e técnica», artigo publicado na revista «Análise Social», em 1968. Entre 1970 e 1972, Dias Agudo efetua uma estadia em Moçambique, lecionando na Universidade de Lourenço Marques. Em 1973, já professor catedrático da Faculdade de Ciências coordena o projeto de investigação «Análise funcional e aplicações. Teoria espectral», financiado pelo Instituto de Alta Cultura. É eleito diretor da mesma Faculdade, sendo pouco depois chamado à presidência da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, no seguimento do golpe militar que derrubara a ditadura do Estado Novo, em 25 de abril de 1974, cargo que assume em outubro de 1974. Nomeado em Comissão de Serviço, Dias Agudo tem de enfrentar a difícil tarefa de manter a integridade da Junta perante pressões externas e internas, modelos de governação divergentes, indecisões políticas várias que praticamente culminaram na extinção do organismo. Neste período e no plano internacional, todavia, novas dinâmicas nos modelos de gestão das ciências emergem, num renovado quadro de relações internacionais em que Portugal se inscreve. Dias Agudo assume a representação de Portugal em diversos fóruns de Ciência e Tecnologia, por inerência das funções que desempenha na presidência da Junta. Assim, em 1976, é nomeado «delegado do Ministério da Educação e da Investigação Científica para contactos e estudos relativos ao Convénio de Cooperação Cultural e Científica entre Portugal e a URSS…», sendo também «Delegado nacional no Comité para a política científica e tecnológica da OCDE».
Em 1976, Dias Agudo pede a exoneração do cargo de presidente da JNICT. Ingressa pouco depois, em 1977, nos quadros do recém-criado Instituto Nacional de Investigação Científica, INIC. É Secretário do «Conselho Consultivo das Ciências Exactas» (um dos quatro Conselhos Consultivos que formavam o Instituto), coordenador da Subcomissão de Matemática, ante de, em 3 de setembro de 1980, tomar posse como presidente do INIC, cargo que desempenhará até dezembro de 1983. É então professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Apreensivo com os destinos incertos dados aos centros de estudos do antigo Instituto de Alta Cultura (IAC) – bem como com as indefinições em matéria de políticas de C&T, assumindo funções num período de grande turbulência política, Dias Agudo logrou defender a investigação científica nas universidades bem como a sua especificidade frente aos intentos agregadores da JNICT. Ainda como presidente do INIC, coube a Dias Agudo acompanhar o «Exame à política científica nacional» conduzido pela OCDE, entre 1981 e 1983, pela parte da investigação universitária. Fez igualmente parte do Conselho Geral da Comissão Nacional da UNESCO, representante numa «Comissão Nacional para a Investigação Científica e Tecnológica» criada por Despacho do Ministro da Cultura e da Coordenação Científica, Francisco António Lucas Pires e em diversas conferências internacionais sobre investigação científica universitária.
Sócio efetivo da Academia das Ciências desde 1979, membro do Conselho Executivo da Fundação Europeia de Ciência, da Sociedade Portuguesa de Matemática, autor de diversos estudos sobre a história do pensamento matemático e das ciências, Dias Agudo regressará à vida académica após o termo da sua comissão de serviço como presidente do INIC. Eleito para a presidência da Comissão Nacional de Matemática, em 1982, manter-se-á como representante e delegado nacional ad hoc às assembleias gerais da International Mathematical Union, ao longo dos anos 80 e 90. Publica «Análise Real» pela Escolar Editora, em 1989, e participa na conferência sobre «História e desenvolvimento da ciência em Portugal no século XX», organizada pela Academia das Ciências de Lisboa – de que é já então membro efetivo.
Jubilado pela Universidade de Lisboa, em 1996, Dias Agudo defendeu um conceito de Ciência e Tecnologia marcado por uma conceção do valor intrínseco – vital ao exercício da ciência -, da liberdade e da autonomia, qualidades que deviam integrar qualquer sistema formal de administração do setor. Tais conceções largamente ecoam nos memorandos, pareceres e relatórios que o ACT conservou da sua atividade como gestor público de Ciência e Tecnologia nos anos 70 e 80. Sócio Honorário da Sociedade Portuguesa de Matemática, Fernando Roldão Dias Agudo foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública em 2004. Decano dos administradores públicos de Ciência, publicou, em 2017, a obra «As minhas memórias, uma vida dedicada à ciência».
Lugares
Lisboa
Funções, ocupações e atividades
Matemático, investigador, professor universitário, gestor público de ciência e tecnologia.
Contexto geral
Último quartel do século XX. A documentação conservada pelo ACT acompanha e ilustra um período importante da história contemporânea portuguesa abrangendo em particular os últimos anos do Estado Novo, o período do 25 de abril de 1974 e anos subsequentes até 1992, com alguma pontual documentação anterior. Os documentos relacionam-se maioritariamente com as funções de administração de ciência e tecnologia que Fernando Roldão Dias Agudo desempenhou em duas entidades de âmbito nacional, a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica que presidiu entre 1974 e 1976, e o Instituto Nacional de Investigação Científica de cujos quadros fez parte logo em 1977 e que veio a presidir entre 1980 e 1983, ano em que renuncia ao cargo para regressar à Faculdade de Ciências de Lisboa. Constituído por numerosas provas autógrafas, o Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo é particularmente relevante para a história das políticas de Ciência no último quartel do século XX, documentando a mudança de regime político e suas consequências na definição de estratégias para a Ciência e a Tecnologia, para o ensino superior, para a investigação científica nacional em geral.
Relações com outras entidades
Nome da entidade
Instituto Nacional de Investigação Científica
Tipo de relação
Presidente;
Secretário do Conselho Consultivo das Ciências Exactas
Datas da relação
1980-1983
1977-1978
Nome da entidade
Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica
Tipo de relação
Presidência
Datas da relação
1974-1976
Nome da entidade
Faculdade de Ciências
Tipo de relação
Docência;
Direção
Datas da relação
1955-1996
1973-1974
Controlo
Regras e/ou convenções
Conselho Internacional de Arquivos – ISAAR (CPF): «Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivística para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias»; Segunda Edição, disponível em: http://www.ica.org/sites/default/files/CBPS_Guidelines_ISAAR_Second-edition_PT.pdf
Estado do registo de autoridade
Finalizado
Nível de detalhe
Médio
Datas de criação, revisão ou eliminação
2018-07-30
Língua e escritas
PT (português)
Fontes
Fernando Dias Agudo (1968), «As universidades portuguesas e a investigação científica e técnica», in «Análise Social», n.º 20/21, volume VI.
__________ (2000), «Sejamos dignos dos matemáticos portugueses da década de 40», in Gazeta de Matemática, n.º 138, Lisboa, janeiro de 2000.
__________ (1982), «Projecto Relatório Síntese Investigação e ensino superior», documento policopiado, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, código de referência: PT/FCT/FRDA/001/19.
__________ (1982), «Relatório sobre a reestruturação da investigação científica universitária», documento policopiado, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, código de referência: PT/FCT/FRDA/001/59.
__________ (1980), «Termo de posse» de Fernando Roldão Dias Agudo como presidente do INIC, documento policopiado, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, código de referência: PT/FCT/FRDA/001/31.
__________ (1981), «Para a melhoria do sistema científico nacional – Papel do Ministério da Educação e Ciência», documento manuscrito, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, código de referência: PT/FCT/FRDA/001/06.
__________ (1983), Despacho de cessação «(…) finda a comissão de serviço que vinha exercendo como presidente do INIC a partir de 1 de dezembro de 1983», documento policopiado, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, código de referência: PT/FCT/FRDA/001/49.
__________ (1976), Requerimento contendo pedido de demissão do cargo de presidente da JNICT, documento manuscrito, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, código de referência: PT/FCT/FRDA/002/10.
__________ (1975), «Para uma política científica nacional – Relatório preliminar…», documento policopiado, in ACT, Arquivo de Fernando Roldão Dias Agudo, Código de referência: PT/FCT/FRDA/002/12.
Anabela Ramos/Helmuth R. Malonek (2005), «Portugal e a fundação da União Matemática Internacional», in Gazeta de Matemática, n.º 148, janeiro de 2005.
Notas de manutenção
Arquivo de Ciência e Tecnologia
dezembro 2018