Factos e curiosidades

Ano de 2019

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Dezembro

Legenda: documento existente no Arquivo de Ciência e Tecnologia, relativo à reunião decorrida em dezembro de 1957, dos chefes de estado da NATO.Ver imagem no formato original.

Assinala-se no presente mês (16 a 19) a data da reunião decorrida em 1957, dos chefes de estado das nações que faziam à época parte da NATO (North Atlantic Treaty Organization), ou Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na designação em português. Nessa reunião debateu-se a avaliação do relatório da task-force de Koepfli, que teve em vista a cooperação científica e tecnológica entre os parceiros da aliança, tendo este sido aprovado por unanimidade.

O mentor do relatório, Joseph B. Koepfli (1904–2004) foi consultor científico do Departamento de Estado Norte-Americano, no início dos anos 50, tendo presidido à task-force da NATO em Ciência e Tecnologia.

Paralelamente, tinha sido criado um comité especial referente ao capital humano e tecnológico, presidido por Henry M. Jackson (1912-1983). As recomendações do relatório produzido por este comité podiam ter tido maior oposição no seio da organização mas o lançamento em outubro desse ano do primeiro satélite soviético, o Sputnik, fortaleceu o desejo de reunir a comunidade científica para um futuro plano de investigação, com imperativos de Defesa.

As conclusões do relatório da task-force de Koepfli vieram ao encontro das recomendações do relatório de Jackson sobre a necessidade da especialização de técnicos, ao nível científico, havendo preocupação com a inclusão social feminina. Mas vai mais longe e promove a criação do Comité Científico da NATO, ou NATO Science Committee (SCOM), o primeiro comité civil no seio da Aliança Atlântica, com representações nacionais encabeçadas por personalidades de relevo científico.

Inicialmente o Comité Científico da NATO não contemplava o apoio às chamadas ciências sociais e humanas, tendo essas áreas científicas sido entregues ao Comité de Relações Culturais. O enfoque inicial ia para as chamadas ciências exatas: Física, Matemática e Química.

O SCOM estabeleceu no ano de 1958, um programa de bolsas que se materializou em Portugal na constituição da Comissão Coordenadora da Investigação para a OTAN (INVOTAN), a partir da qual foi prestado apoio permanente às atividades cientificas nacionais e ao financiamento de bolsas de investigação.

A INVOTAN foi inicialmente criada na Presidência do Conselho (1959), superestrutura política dotada de competências para reforço dos mecanismos de controlo do poder, chefiada pelo chefe do governo, à época António de Oliveira Salazar (1933 – 1968). No ano de 1970 a comissão seria integrada na Junta Nacional de Investigação Científica (JNICT), tendo permanecido lá até 1997.

Apesar da sua importância no panorama do apoio ao financiamento da atividade científica nacional, a INVOTAN não foi objeto de um diploma de constituição, mas apenas de um despacho manuscrito, nunca publicado no Diário do Governo.

O Arquivo de Ciência e Tecnologia tem à sua guarda o acervo documental da Comissão INVOTAN, nomeadamente as atas-resumo das reuniões ocorridas entre 1959 e 1983, constituindo estas um contributo único para o estudo da atividade de financiamento científico no panorama português.

Helena Baltazar

Webgrafia:
Turchetti, Simone. Greening the Alliance- The Diplomacy of NATO’S Science and Environemental Initiatives
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Brandão, Tiago. História das Relações Internacionais Portuguesas. Revista de Relações Internacionais 09/2012 [pp 81‑101]
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Vicente, Paulo Jorge. A Comissão INVOTAN Políticas e internacionalismo científicos na década de 1950
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Novembro

Legenda: depósito de arquivo do Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Ver imagem no formato original.

O ano em revista do Arquivo de Ciência e Tecnologia é o mote que propomos para a rúbrica Factos e curiosidades do primeiro mês de 2020. Vamos contabilizar, assinalar e comunicar aquilo que foi feito pela equipa do ACT, de janeiro a dezembro de 2019, nas suas grandes áreas de atuação: tratamento e disponibilização de arquivo histórico, gestão do arquivo intermédio e arquivo corrente.

É missão do ACT o tratamento e a disponibilização do arquivo histórico à guarda da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Para o efeito, a equipa de técnicos especialistas em Ciências da Informação e da Documentação, desenvolveu ao longo do ano de 2019 várias ações de reacondicionamento, higienização e descrição arquivística em aplicação informática normalizada, tendo sido criados cerca de 2 mil registos.

Focada na importância de disponibilização de documentação para consulta, a equipa do ACT recebeu e deu resposta a pedidos de requisição externa – na sua maior parte para fins académicos, necessários no âmbito da realização de trabalhos científicos –, e a pedidos de requisição interna – de natureza vária, como por exemplo, para emissão de segunda via de documento, para consulta e apoio no âmbito de processos em curso, para contagem de tempo de serviço para efeitos de cálculo de pensão, entre outros.

Os arquivos mais consultados foram os da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), do Instituto Nacional de Investigação Científica (INIC), da Junta de Energia Nuclear (JEN), do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII), da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e do médico e cientista Luís Ernani Dias Amado.

Destacamos no contexto das requisições internas, que, maioritariamente, disponibilizámos arquivo para a satisfação de interesses e necessidades do cidadão. Também o tempo médio de resposta superou as expectativas planeadas pelo ACT, sendo em média de 2 dias após a receção do pedido.

Outra área de atuação do ACT que mereceu uma forte aposta no ano de 2019 foi a implementação e monitorização de um novo sistema eletrónico para a gestão de documentos e processos em ambiente digital. Este é um projeto que visa promover a desmaterialização e, simultaneamente, a simplificação dos processos de negócio. O ano de 2020 será determinante para a prossecução deste projeto. Interoperabilidade, partilha de informação, centralização, reutilização, recuperação, disseminação e preservação da informação, são temas a tratar e que necessariamente irão levar a novos projetos na instituição. Um caminho necessário para a constituição de um Arquivo Digital, para salvaguarda da nossa história e memória coletiva.

No decorrer do ano passado, o Arquivo de Ciência e Tecnologia assinalou datas comemorativas e participou em eventos com o objetivo de dar a conhecer e promover os acervos documentais à guarda da FCT, bem como a missão, trabalhos realizados e trabalhos em curso. A comunicação daquilo que existe no ACT e do que este Arquivo se propõe fazer tem merecido a melhor atenção por parte da equipa.

Destaca-se a participação no evento de ciência anual, o CIÊNCIA 2019, encontro que tem como principal objetivo estimular a participação e a interação entre investigadores e público em geral; a organização de uma iniciativa de troca de livros nas instalações da FCT, para assinalar o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, comemorado em abril; a visita da turma de mestrado em Comunicação da Ciência, da FCSH-UNL, no âmbito do seminário «Ciência e Sociedade»; a realização de uma pequena mostra comemorativa para assinalar os 8 anos de atividade do ACT, cumpridos a 16 de dezembro, em género de Conta-me como foi na JNICT.

Para 2020 o objetivo mantem-se: tratar e preservar a informação produzida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no exercício da sua atividade, assim como promover, divulgar e permitir o acesso ao acervo documental depositado no Arquivo de Ciência e Tecnologia.

Cátia Matias Trindade

Outubro

Legenda: relógio e sinal luminoso de “Reactor em operação” no interior do edifício do Reactor Português de Investigação, Sacavém, 2011. Ver imagem no formato original.

No passado mês de setembro ficámos a par do desmantelamento do único Reactor Nuclear Português de Investigação (RPI), que esteve em atividade durante mais de 50 anos no atual Campus Tecnológico e Nuclear em Sacavém. Este mês recuamos até 1961 para recordar a história da sua construção e o início do seu funcionamento..

O Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT disponibiliza a documentação que pertenceu à Junta de Energia Nuclear, instituição responsável pelo Laboratório de Física e Engenharia Nucleares (LFEN), onde foi instalado o reator e outros equipamentos modernos de estudo e investigação, singulares em Portugal no início da década de 60.

Nos livros das Atas das Sessões Plenárias estão documentados os primeiros passos para a aquisição dos terrenos onde iriam ser construídos os edifícios do LFEN, as decisões sobre as questões de segurança, que ficariam a cargo da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), e a constituição da equipa para a elaboração do projeto. Desta equipa faziam parte o arquiteto António Lino (1909-1961) e o engenheiro Artur Bonneville Franco (1911-1966).

Em Janeiro de 1959 foi adjudicada a construção do edifício do reator. Este edifício foi considerado um empreendimento único no país, no que respeita ao sistema de ventilação e à piscina que comportava cerca de 450 mil litros de água.

Funcionou pela primeira vez dois dias antes da inauguração do Laboratório de Física e Engenharia Nuclear a 27 de abril de 1961, colocando Portugal como um dos países do mundo a dispor de um reator de cisão nuclear para atividades de investigação científica, desenvolvimento experimental e formação de pessoal.

A notícia da inauguração foi capa dos jornais diários da época, exemplo disso foi o Diário de Lisboa que dedicou parte da capa à notícia da inauguração, onde é relatada a receção do presidente da JEN ao Presidente da República, a sessão de abertura e a chegada dos participantes internacionais, entre eles o presidente da JEN espanhola, o diretor adjunto da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e o representante da Comissão de Energia Atómica dos Estados Unidos da América.

Em 2016 o reator deixou de operar, mais de 50 anos depois de entrar em funcionamento e após uma inspeção da AIEA ter detetado falhas técnicas. Por prevenção, os responsáveis decidiram parar a atividade do reator, tendo o mesmo sido desmantelado em março de 2019, como recentemente se tornou público.

Catarina Cândido

Bibliografia:
OLIVEIRA, Jaime da Costa – O reactor nuclear português: fonte do conhecimento. Santarém.
Editora O Mirante, 2005. ISBN9728585268

Setembro

Legenda: reunião do Conselho de Governadores, na VIII Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica. Prova fotográfica existente no Arquivo da Junta de Energia Nuclear. Ver imagem no formato original.

Iniciamos setembro relembrando a participação de Portugal na reunião do Conselho de Governadores no âmbito da VIII Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica, realizada em setembro de 1964 em Viena, na Áustria.

Portugal foi um dos 12 Estados que tomaram parte na Conferência de Washington em 1956, para elaboração dos Estatutos da Agência Internacional de Energia Atómica.

De acordo com os estatutos, por ser um país produtor de matérias-primas nucleares, Portugal foi um dos primeiros países membros daquela organização e a ter assento no Conselho de Governadores.

Esta posição de produtor de matérias-primas nucleares e a ação do Ministério dos Negócios Estrangeiros possibilitou a assinatura do Acordo de Cooperação com os Estados Unidos da América. Ao abrigo deste acordo foi adquirido aos EUA o Reator de Investigação para equipar o Laboratório de Física e Engenharia Nucleares em Sacavém.

Em setembro de 1964 realizou-se a VIII Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica onde Portugal esteve representado por uma delegação presidida por Francisco de Paula Leite Pinto, na altura presidente da Junta de Energia Nuclear.

Convidamos os interessados no tema a consultarem a documentação proveniente da Direção dos Serviços Internacionais do Arquivo da Junta de Energia Nuclear, onde se encontra o processo relativo à participação da delegação portuguesa na VIII Conferência Geral, composto por documentação relativa à missão a Viena de Áustria e do relatório da reunião do Conselho de Governadores.

Catarina Cândido

Bibliografia:
A Energia Nuclear em Portugal : uma esquina da história, Jaime da Costa Oliveira. 1a ed. Santarém : O Mirante, 2002.  ISBN 972-8585-13-6.

Agosto

Legenda: participação do Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação para a Ciência e Tecnologia no Encontro CIENCIA’19. Ver imagem no formato original.

O Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT esteve presente no Encontro CIENCIA’19 onde teve a oportunidade de divulgar a sua atividade na preservação e divulgação do património documental à sua guarda.

Para demonstrar o que fazemos, exibimos um vídeo que permite conhecer o espaço físico onde nos encontramos, assim como as tarefas que desenvolvemos para a disponibilização de informação ao público.

A participação neste encontro permitiu-nos conhecer pessoalmente alguns dos utilizadores que nos contactam à distância e também apresentar as possibilidades de pesquisa que a documentação pode oferecer.

Aos visitantes tivemos o gosto de oferecer um saco de pano, o nosso contributo para evitar o plástico, um marcador de livros e um folheto de apresentação dos nossos serviços.

O verso do folheto foi pensado para ser utilizado como cartaz e pode ser descarregado aqui. A imagem escolhida pertence a um conjunto de desenhos originais que fazem parte do Arquivo Luís Dias Amado e representa uma glândula duodenal tubular ramificada, desenhada à mão em tinta-da-china sobre papel por Luís Alberto Santos.

Para quem tem interesse em ilustração científica pode apreciar também outras imagens da mesma coleção aqui.

Catarina Cândido

Julho

Legenda: documentação composta por formulário e envelope, pertencente ao arquivo da Comissão INVOTAN e disponível para consulta no Arquivo de Ciência e Tecnologia. Ver imagem no formato original.

Assinala-se no presente ano a passagem de 70 anos sobre a assinatura da Declaração de Washington, documento que instituiu o Tratado do Atlântico Norte, estando este na génese da criação da NATO (North Atlantic Treaty Organization), aliança militar intergovernamental que visava conter e dissuadir o avanço do comunismo.

Figura de proa do tratado, o diplomata norte-americano George F. Kennan, vice-chefe da missão em Moscovo no período que sucedeu o final do conflito mundial, não concordava com a ideia de um conflito direto entre as duas superpotências, tendo defendido a doutrina do «containment» (estabilidade e contenção perante o avanço do comunismo).

O tratado, assinado em 1949, constituiu-se como basilar na construção de um novo paradigma nas relações internacionais, cenário em que começavam a erguer-se os alicerces do novo sistema bipolar que assentava na Guerra Fria, onde se digladiavam os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Portugal é um dos doze membros fundadores da NATO. Do lado português o documento foi assinado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros, José Caeiro da Matta e pelo embaixador de Portugal em Washington, Pedro Teotónio Pereira.

O decreto de ratificação do Tratado do Atlântico Norte foi publicado no Diário do Governo n.º 165, 1.ª Série, de 28 de julho de 1949.

No ano de 1958 o comité Científico da NATO instituiu um programa de bolsas, constituindo este o arranque no apoio aos assuntos de carácter científico enquanto criadores de desenvolvimento social.

No ano posterior foi fundada em Portugal a Comissão Coordenadora da Investigação para a INVOTAN, criada na Presidência do Conselho, visando esta tornar permanente o apoio às atividades científicas nacionais realizadas no âmbito da NATO, ou Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na designação portuguesa. Em 1970 a Comissão INVOTAN foi integrada na JNICT e aí funcionou até 1997.

O Arquivo de Ciência e Tecnologia tem à sua guarda o Arquivo da Comissão INVOTAN (atualmente em tratamento), que passou ao longo dos anos por diversas entidades até ficar sob custódia da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A documentação inclui essencialmente processos de bolsas financiadas, existindo também documentação relativa ao acompanhamento e gestão dos vários programas de apoio no âmbito da NATO.

Helena Baltazar

Webgrafia:
Brandão, Tiago
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Severiano Teixeira, Nuno
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Guerra, Alexandre
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Junho

Legenda: cartaz do Conselho Internacional de Arquivos, alusivo à Semana Internacional dos Arquivos (2019). Imagem retirada do sítio web do ICA. Ver imagem no formato original.

O Dia Internacional dos Arquivos celebra-se a 9 de junho e a cada ano o Conselho Internacional de Arquivos propõe um novo tema de reflexão para a comunidade dos profissionais da informação e para os cidadãos. Este ano fala-se de Designing the Archives in the 21st Century! Como estamos a pensar e a construir os arquivos no Século XXI?

Inspirados neste tema, pensámos num pequeno contributo e no que pode ser um dos pilares desta construção. Gerir milhares de processos de financiamento faz da Fundação para a Ciência e a Tecnologia uma instituição com uma elevada dimensão informacional. Desmaterializar e simplificar processos e procedimentos é um dos desafios que atualmente os gestores de informação da FCT enfrentam. Mas, mais do que alteração de suporte é preciso estruturar, classificar, gerir, recuperar, preservar, disponibilizar, entre outros. Estes são os vários pilares da construção.

O paradigma altera, a informação já não está apenas no papel, muito pelo contrário, cada vez mais se trabalha em ambiente digital. Uma oportunidade que estimula o desenvolvimento e a implementação de um sistema de gestão documental, desencadeando necessariamente um processo de intervenção mais vasto. Olhar para os processos com uma perspetiva macro permite um conhecimento transversal do produtor levando mesmo à normalização e à definição de procedimentos onde eles não existem. Mais ainda pelo desenvolvimento e aplicação de ferramentas macro de gestão e organização da produção documental. Estão assim lançados os alicerces para a constituição do Arquivo do Século XXI.

Projetos desta natureza podem ser um efetivo contributo para a constituição de arquivos digitais, com documentos produzidos em diversos suportes e em diversos sistemas de informação, permitindo a consulta e a recuperação de informação imediata e de forma centralizada.

Pensar e conceber os Arquivos atuais. Sem dúvida um desafio para os profissionais da informação, porque preparar o Arquivo é preparar o futuro!

Paula Meireles

Maio

Legenda; Fotografia de Luiz Carvalho, publicada no jornal Expresso de 13 de Junho de 1992, alusiva à Fábrica-Escola Irmãos Stephens. Ver imagem no formato original.

No mês em que se celebra o Dia do Trabalhador dedicamos este espaço de memória à Fábrica-Escola Irmãos Stephens na Marinha Grande e aos seus trabalhadores.

Esta bicentenária instituição, sobre a qual o Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT detém documentação por ter sido um serviço externo do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII), encerrou a sua atividade em definitivo em 1992 deixando cerca de 400 pessoas no desemprego.

A Fábrica-Escola Imãos Stephens  (FEIS) laborou durante cerca de duzentos anos e foi uma das principais referências na indústria vidreira nacional. O alvará de laboração foi assinado pelo Secretário de Estado do Reino de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo – Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, que em julho de 1769 autorizou o inglês Guilherme Stephens e o sócio, seu irmão, João Diogo Stephens a transferirem a antiga fábrica de vidros de Coina para a Marinha Grande.

No seu esforço de incremento da produção nacional e de proteção da concorrência estrangeira, a fábrica beneficiou do apoio do Marquês de Pombal que cedeu madeira do pinhal de Leiria para a sua laboração. Após a morte de João Diogo Stephens em 1826, a fábrica passou, por testamento, para a posse do Estado português.

Entre 1827 e 1919 conheceu diversos arrendatários e a partir desse ano passa a sua exploração a ser feita pelo governo português, através de Comissões Administrativas. Em 1954, a sua designação deixa de ser «Nacional Fábrica de Vidros da Marinha Grande» para passar a designar-se «Fábrica-Escola Irmãos Stephens». No mesmo Decreto-Lei fica contemplado a criação de “Um museu para exposição e conservação não só das espécies suficientemente representativas da indústria vidreira nacional nos aspectos técnico e artístico, como ainda objectos de vidro produzidos no país em diferentes épocas, de modo a patentear a evolução deste importante sector da indústria nacional”, o que veio a acontecer em 1994.

Cinco anos depois, em 1959, passa a depender do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII) como serviço externo, competindo a este a superintendência de modo a assegurar uma administração e um quadro de pessoal, de acordo com as exigências de gestão de uma unidade fabril moderna. Situação esta que o seu diretor António de Magalhães Ramalho se empenhou bastante em concretizar.

Instalada numa vila tradicionalmente operária, o número de trabalhadores da FEIS chegou às seis centenas durante os anos 70, tendo muitos deles completado 30 anos ao serviço da fábrica.

No período pós-revolução a FEIS passa a ter o estatuto de Empresa Pública e após sucessivas crises, que se refletiram no desemprego de grande número de trabalhadores e, consequentemente, em períodos dramáticos para a população da Marinha Grande, a fábrica encerrou definitivamente as portas em 1992.

Atualmente, o conjunto de edifícios de traça pombalina das antigas instalações ocupadas pela fábrica e o palacete dos irmãos Stephens funcionam como Museu do Vidro, sendo a sua principal coleção e a que serviu de base à sua instalação composta pelas peças provenientes da produção da FEIS que foram reunidas num fundo que teria como fim a criação ou a integração num museu.

Catarina Cândido e Helena Baltazar

Fontes consultadas:
RAMALHO, Margarida Magalhães, «António de Magalhães Ramalho: fundador do INII e pioneiro da investigação industrial», By The Book, Lisboa. Relatório de Actividades de 1972, da Direcção-Geral dos Serviços Industriais, Instituto Nacional de Investigação Industrial, 1973, Lisboa.Para consultar mais sobre o edifício:
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Abril

Legenda; Maria Velho da Costa (esq.) Maria Teresa Horta (ao centro) e Maria Isabel Barreno (dta.). Fotografia publicada no jornal Manchete (Rio de Janeiro), n.  1153, edição de maio de 1974. Ver imagem no formato original.

No mês em que disponibilizamos o Arquivo do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII) e no mês em que se celebram os 45 anos do 25 de Abril, escolhemos como curiosidade o facto de duas das autoras de «Novas Cartas Portuguesas», Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno terem sido funcionárias no Serviço de Produtividade do INII, até final dos anos 70.

Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, nomes maiores da literatura portuguesa do séc. XX e autoras premiadas de obras de referência, encontram-se em maio de 1971 para escreverem juntas um livro. Cada uma, individualmente, já tinha publicado obras de uma forte dimensão política e desafiadoras dos papéis sociais e sexuais que eram esperados da mulher, numa sociedade dominada pela ditadura. Após Maria Teresa Horta ter sido perseguida e agredida em sequência da publicação do seu livro de poesia erótica «Minha Senhora de Mim», as duas amigas Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno sentem-se impelidas a delatar a situação das mulheres em Portugal e as três escrevem as «Novas Cartas Portuguesas». O livro seria publicado em abril de 1972 pela Editora Estúdios Cor incluído na coleção Serpente, com direção literária de Natália Correia. «Novas Cartas Portuguesas, porém, não foi apenas um pretexto para um incómodo mas também a confirmação da escrita de um livro excecional, que revolucionou as mentalidades nacionais e gerou interesse em todo o mundo devido tanto ao alarido provocado como ao seu valor» in projeto apoiado pela FCT Projeto (PTDC/CLE-LLI/110473/2009) Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois

Na altura, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa eram funcionárias do INII. O Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação para a Ciência e a Tecnologia é detentor, desde 2015, do Arquivo do Instituto Nacional de Investigação Industrial, onde a partir deste mês está disponível para consulta. Maria kte de direção entre 1970 e 1978 e Maria Isabel Barreno assistente de 1.ª classe de 1962 a 1975, ambas no Serviço de Produtividade. Em entrevista publicada no livro «António de Magalhães Ramalho – fundador do INII e pioneiro da investigação industrial», de Margarida Magalhães Ramalho, Maria Isabel Barreno diz «o INII foi um lugar onde me formei como adulta».

Em entrevistas dadas pelas autoras ficamos a saber de alguns dos seus hábitos durante o período que durou a escrita do livro. Uma vez por semana saíam juntas da Rua de São Domingos à Lapa, apanhavam a Maria Teresa Horta que era jornalista n’A Capital e seguiam para o restaurante Treze no Bairro Alto.

Pouco tempo depois do livro ter sido publicado foi apreendido pela polícia e iniciou-se o processo judicial em que o Estado Português acusava as autoras e o editor de terem escrito um livro «pornográfico e atentatório da moral pública e bons costumes», processo que ficou conhecido pelo caso das Três Marias. Numa entrevista a Maria Velho da Costa, ao jornal Público a 13 de dezembro de 2013, diz: «O director que tinha, muito reaccionário – devia lembrar-me do nome dele, para mal, mas não me lembro -, tinha tudo preparado para, caso fôssemos condenadas, rescindir o contrato».

A leitura da sentença, inicialmente marcada para 18 de abril de 1974, é adiada para substituição do representante do Ministério Público, uns dias depois dá-se a Revolução a 25 de Abril. A sentença será proferida a 7 de maio de 1974 promulgando a absolvição das rés. Na fundamentação da sua decisão, o juiz do processo concluirá: «(…) o livro Novas Cartas Portuguesas não é pornográfico nem imoral. Pelo contrário: é obra de arte, de elevado nível, na sequência de outras obras de arte que as autoras já produziram».

A fotografia que usámos para ilustrar este texto foi publicada no jornal Manchete (Rio de Janeiro), n.º 1153 edição de 25 de maio de 1974 e corresponde ao momento em que as Três Marias saem do Tribunal da Boa-Hora, após a leitura da sentença, livres e de cravo ao peito.

Catarina Cândido

Bibliografia:
AMARAL, Ana Luisa – organização e edição anotada de – Novas Cartas Portuguesas. Lisboa, Publicações Dom Quixote 2010. Especiais, Lda.
RAMALHO, Margarida de Magalhães – António de Magalhães Ramalho fundador do INII e pioneiro da investigação industrial. Lisboa, By The Book Edições
Ver link

Webgrafia:
Amaral, Helena e Mourato, Felipa – “O processo das três Marias: História de um julgamento” Capazes de  25 de outubro de 2015. Web
Chitas, Irina – “A poesia da liberdade: Maria Teresa Horta”, revista Vogue 3 de abril de 2018. Web
Costa, Tiago Bartolomeu – “Maria Velho da Costa: Uma flor no deserto”, jornal Publico 13 de janeiro de 2013. Web

Março

Legenda: retrato de Adérito Sedas Nunes existente no Arquivo de Ciência e Tecnologia. Ver imagem no formato original.

Durante os anos 50 do século passado Portugal assistiu à intensificação do desenvolvimento industrial, que culminou nos anos 60 com o arranque do crescimento da economia em ambiente de abertura ao Exterior.

É neste contexto de impulso na área da produção industrial que, no ano de 1960, Adérito Sedas Nunes (Lisboa, 1928 – 1991) lecionou o módulo «A posição dos trabalhadores manuais no processo histórico do desenvolvimento industrial», integrado no curso alusivo ao tema da Produtividade, organizado pelo Instituto Nacional de Investigação Industrial.

O curso foi concebido em parceria com a Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico de Lisboa (AEIST) e decorreu nas instalações do instituto. Teve como critério de admissão alunos com a frequência dos 5.º e 6.º anos de licenciatura, por se encontrarem «…mais próximo do contacto directo com as realidades de vida profissional».

Previamente ao curso, realizou-se um inquérito, promovido pela AEIST, por forma a avaliar as preferências dos alunos relativamente às matérias a lecionar. O plano curricular do curso teve em consideração os resultados desse inquérito.

Ainda com base nesta temática, Sedas Nunes publica no volume I da Análise Social (revista em que foi membro fundador), em 1963, um artigo sobre a questão das relações humanas em ambiente de empresa e a sua evolução histórica (pág. 104-113).

A coleção da revista Análise Social pode ser consultada na Biblioteca da FCT.

Helena Baltazar

Fevereiro

Legenda: instalações da FCT SIPA, Interior: vestíbulo central. 2007. Fonte: Sistema de Informação para o Património Arquitetónico. Ver imagem no formato original.

O edifício que é ocupado pela FCT, no n.º 126 da Av. D. Carlos I, tem a configuração atual de 9 pisos e 3 caves desde 1971. Foi concebido para cumprir várias funções em simultâneo, edifício de serviços e jardim de infância, que funcionou até há poucos anos nos dois últimos andares. Em 1975 o Ministro do Planeamento e Coordenação Económica determinou por despacho interno (PT/FCT/FRDA/002/10) que fossem distribuídos pelos 6.º e 7.º andar os seguintes serviços do Ministério: «Gabinete do Ministro e Secretários de Estado, Gabinetes Jurídico e de Comunicação Social, Secretaria dos Gabinetes, Secretaria-Geral do Ministério, Comissão de Apoio às Cooperativas, Comissões e Núcleos a funcionar no âmbito do PNE, a Biblioteca e outros serviços de apoio aos Gabinetes». A JNICT ocuparia o 1.º e 2.º andar, este na totalidade. Em maio de 1976 é proposto (PT/FRDA/002/14) o esquema de distribuição dos diferentes serviços da JNICT, assim como dos restantes organismos, e de acordo com a documentação consultada ficamos a saber que no R/C lado C funcionou também uma Companhia de Seguros e no conjunto A uma loja de ferragens.

Nos dias de hoje a FCT ocupa todos os andares desde a cave ao 7.º andar e partilha o 3.º com outras instituições. Na cave está instalado desde dezembro de 2011 o Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT, nas antigas instalações do Arquivo Geral da SCML que desde 1974 ocupava este espaço.

Pode ser consultada mais informação sobre o edifício aqui.

Catarina Cândido

Janeiro

Legenda: capa do Caderno Especial do SINACT, existente no Arquivo de Ciência e Tecnologia. Ver imagem no formato original.

O Simpósio Nacional de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (SINACT) realizou-se há 40 anos, em maio de 1979. Foi o primeiro grande fórum nacional público, organizado a seguir ao 25 de abril, dedicado aos problemas da administração de Ciência e Tecnologia.

O SINACT, organizado pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, teve também o objetivo de preparar a presença portuguesa na Conferência das Nações Unidas sobre Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento e reuniu mais de uma centena de especialistas nacionais de diversas áreas para discutir modelos e estratégias de desenvolvimento para o sector.

Para relembrar este importante evento, o Arquivo de Ciência e Tecnologia disponibiliza um caderno especial na página dedicada a Recursos para a história da Ciência e Tecnologia onde podem ser lidas as comunicações apresentadas, num total de 126, e os relatos finais deste encontro.

Ana Filipa Candeias