Augusto Pires Celestino da Costa

Diretor do Instituto de Histologia e Embriologia da FML (1911-1954).
Diretor do Aquário Vasco da Gama (1913-1921).
Diretor da FMUL (1935-1942).
Primeiro presidente do IAC (1936-1942).


Augusto Pires Celestino da Costa nasceu em Lisboa a 16 de abril de 1884, filho de Pedro Celestino da Costa e de Maria Luísa Amélia Pires da Costa. Faleceu a 27 de março de 1956 em Lisboa, no decurso da 43ª reunião da Association des Anatomistes,da qual era presidente.

Cientista, investigador e professor universitário licenciou-se em Medicina em dezembro de 1905 na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, com uma tese sobre as glândulas supra-renais. Dedicou a sua carreira de investigação à Histologia e Embriologia onde procurou sempre ampliar e aprofundar os seus conhecimentos realizando estágios em diversos laboratórios no país e também no estrangeiro.

Entre 1901 e 1906 realizou estágios de curta duração em laboratórios nacionais, nomeadamente no Laboratório de Histologia de Rilhafoles (desde 1911 Hospital Miguel Bombarda), sob as orientações do Prof. Marck Anahory Athias, no Laboratório de Histologia da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e no Laboratório do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana.

Entre 1906 e 1907 parte para estagiar em Berlim (Alemanha), primeiro no Anatomish-biologisches Institut, onde foi discípulo do Prof. Oskar Hertwig, no ano seguinte para o Pathologisches Institut des Moabit-Krankenhaus, onde foi aluno do Prof. Benda e por fim no Hygienisches Institut, da Universidade de Berlim, sob a tutela do professor Rubner.

Passou por Espanha pelo Laboratório de Investigaciones Biológicas de Madrid, com o Prof. Ramon y Cajal em 1917, pelo Instituto de Embriologia de Utrecht (Holanda) com o Prof. De Lange entre 1917 e 1922 e no Instituto de Anatomia e Embriologia com o Prof. Brachet em Bruxelas (Bélgica).

Em 1910, reingressa na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa como «preparador de Histologia e Fisiologia» e pouco depois em 1911, para ocupar, através de concurso, o lugar de assistente na Faculdade de Medicina de Lisboa, entretanto criada na primeira Reforma do Ensino da nova República Portuguesa. No mesmo ano fundou com Pedro Roberto Chaves, Luís Simões Raposo e Alfredo Magalhães Ramalho o Instituto de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina de Lisboa.

Desde 1907 foi sócio- fundador da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais e integrou a direção do Aquário Vasco da Gama, Estação de Biologia Marítima. Entre 1916 e 1923 assume a direção desse estabelecimento científico, atividade que manterá a par da direção do Laboratório Central de Análises Clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa (em 1919), de cujo Conselho Técnico também faz parte. Com Marck Athias e Abel Salazar funda, entretanto, os «Arquivos Portugueses de Ciências Biológicas» e, mais tarde, em 1920, a Sociedade Portuguesa de Biologia.

A par da sua carreira dedicada à investigação e ao ensino, Celestino da Costa teve também um papel muito ativo na direção de organismos dedicados à gestão de Ciência. Foi diretor na Junta de Educação Nacional, vogal, vice-presidente e presidente, entre 1929 e 1936, ano em que o Instituto para a Alta Cultura lhe sucedeu. No Instituto para a Alta Cultura, Celestino da Costa foi o primeiro presidente.

Empenhado em estudar a relação entre serviços laboratoriais e serviços clínicos noutros países, em 1933 viaja para a Europa Central para estudar os mais importantes serviços hospitalares e a organização dos seus serviços laboratoriais. Em 1934 e em paralelo com a sua atividade, foi trabalhar com o Prof. J.P. Hill para o Laboratório de Histologia e Embriologia da University College em Londres (Reino Unido).

Pela mesma época, foi secretário-geral da recém-criada Sociedade Anatómica Portuguesa (1933), mais tarde em (1945-1950) seu presidente por aclamação, presidente da direção da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (1946-1949) e presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia (1953), que ajudara a fundar com Iriarte Peixoto.

Durante os anos da II Guerra Mundial, Celestino da Costa é afastado da presidência do Instituto para a Alta Cultura e da direção da Faculdade de Medicina de Lisboa (1942), permanecendo à frente do serviço de Análises Clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa.

Foi secretário-geral da Sociedade Anatómica Portuguesa e, entre 1946 e 1949,presidente da direção da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. Entre 1949 e 1955 foi presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e da Sociedade de Estudos Pedagógicos.

Em 1947 foi aposentado compulsivamente pela Resolução do Conselho de Ministros de 14 de junho, decretada pela Presidência do Conselho, no sentido de serem desligados do serviço diversos funcionários civis e militares fazendo o seu nome parte da lista de personalidades a serem afastadas. Viria a ser reintegrado no mesmo ano, como professor catedrático na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se manteve até à sua jubilação a 16 de abril de 1954.

Membro de diversas associações internacionais de ciência, entre as quais a Associationdes Anatomistes (de França), o Colégio Anatómico Brasileiro e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Zoological Society of London, a Académie Royale de Médecine de Belgique, de que fora eleito membro honorário correspondente estrangeiro em 1939, membro titular do Institut International d’Embryologie.

Foi distinguido com o grau de Doutor Honoris Causa, pelas faculdades de medicina de São Paulo (Brasil), Bordéus, Toulouse e Montpellier (França). Foi também, Conselheiro de honra do Consejo Superior de Investigaciones Científicas de Espanha, agraciado com o grau de Comendador da Légion d’Honneur de França, «membro correspondente estrangeiro» da Académie Nationale de Médecine de Paris, doutor Honoris Causa pela Faculdade de Medicina de Montpellier (França).

Celestino da Costa deixou uma extensa obra bibliográfica, técnica e científica – privilegiando a Histologia, a Embriologia, a Endocrinologia, a Biologia Celular, a Microscopia, mas também cultural e cívica, em prol da educação científica e da investigação nacional. Celestino da Costa dedicou alguns trabalhos à sua cidade, Lisboa, como «Introduction à la connaissance de Lisbonne» (1933), «Lisboa, capital de Portugal» (1941), tendo presidido à Junta Directiva do Grupo dos Amigos de Lisboa, em 1947.

Colaborador na Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, publicou, entretanto, obras de divulgação sobre «O corpo humano» pela Biblioteca Cosmos de Bento de Jesus Caraça, a par de livros técnicos especializados como o «Manual de Técnica Histológica» (1921), com Pedro Roberto Chaves, ou «Éléments d’embryologie» (1938) pela editora francesa Masson et Cie., obra de referência no seu género que teria uma versão castelhana em 1945 e ainda reedição francesa em 1948.

Considerado por muitos um defensor empenhado na causa da educação pública, da ciência e da cultura, debateu-se pela modernização do ensino médico e pela consolidação nas universidades portuguesas de práticas pedagógicas baseadas nos modernos métodos laboratoriais de experimentação e observação direta, análise e descrição objetiva de facto.

Histologista e um dos criadores da embriologia, foi um dos mais prestigiadoscatedráticos da Faculdade de Medicina de Lisboa, com mérito reconhecido internacionalmente e com maior longevidade no cargo, manteve-se em funções por mais de 42 anos.

Em sua homenagem a cidade de Lisboa atribui o seu nome a uma rua na freguesia da Penha de França (Rua Prof. Celestino da Costa).

 

Fontes:

«Notas biográficas de Augusto Pires Celestino da Costa» (nd.); documento autógrafo policopiado. Arquivo de Ciência e Tecnologia, Espólio Augusto Pires Celestino da Costa. Código de referência: PT/FCT/ACC/002/28.

Arquivo de Ciência e Tecnologia. Fundo Augusto Celestino da Costa

Arquivo de Ciência e Tecnologia. Registo de Autoridade Arquivística

Professores Catedráticos na página «Memória da Universidade»

Celestino da Costa in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2020

 

Março de 2022