Arquivo de Ciência e Tecnologia | 10 anos a contribuir para a História e Memória da Ciência em Portugal

 

Paula Meireles
Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

 

Hoje, o Arquivo de Ciência e Tecnologia faz 10 anos, tendo sido inaugurado a 16 de dezembro de 2011.

O Arquivo de Ciência e Tecnologia tem por missão tratar, preservar e divulgar o património arquivístico à guarda da FCT e outros com interesse científico e histórico contribuindo assim para a preservação da história e memória da ciência e da tecnologia em Portugal.

Um Arquivo que preserva e gere a memória documental da produção científica nacional, traduzida em milhares de processos de apoio a bolsas, instituições e projetos de investigação. Um acervo documental e bibliográfico que representa a história das instituições, das políticas científicas e da organização da ciência, com interesse para todas as áreas do conhecimento.

Na origem deste Arquivo está o facto da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) ter vindo a herdar diversos espólios ligados à ciência e à investigação científica. Um património documental que sobreviveu a abandonos ou destruições, o que sabemos acontece muitas vezes a importantes acervos públicos e privados.

Em 2008, com o objetivo de promover o tratamento, organização, preservação e divulgação deste acervo, de indiscutível valor científico e patrimonial, a FCT celebrou um protocolo de colaboração com o Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH, o que promoveu o arranque desta empreitada com recursos humanos qualificados, de investigadores e técnicos especialistas da área da arquivística. Foi também estabelecido um protocolo com a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) que tem feito o acompanhamento técnico deste projeto.

Desde 1967, que a documentação produzida, primeiro pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), depois pela FCT, não teve qualquer tratamento arquivístico, tendo aumentado exponencialmente a partir dos anos 90 com o crescimento da atividade e do financiamento à atividade científica. Juntando a integração de outros acervos de instituições públicas entretanto extintas levou a que no início do projeto tivessem sido contabilizados cerca de 4.000 metros lineares de documentação dispersa em vários depósitos. As condições de acondicionamento não eram as melhores, mas em 2011 conseguiu-se reunir praticamente toda a documentação num espaço o que permitiu uma aceleração do trabalho de intervenção técnica arquivística a este património.

Para além do tratamento e disponibilização do património documental à guarda da FCT, um dos objetivos do ACT tem a ver com a possibilidade de apoio ao tratamento de acervos de ciência e tecnologia pertencentes a outras entidades, relevantes para o conhecimento e estudo da história da ciência e das políticas científicas em Portugal. É o caso do Arquivo da Junta de Energia Nuclear e do Arquivo da Comissão Fulbright, ambos já inventariados e disponíveis em linha.

Outro serviço prestado pelo ACT tem a ver com a possibilidade de integração e preservação de outros acervos. Atividade que inclui o ingresso, por doação ou depósito, de arquivos pessoais ou institucionais, com interesse para a história da política científica em Portugal. Assim, estamos perante um acervo que tem enriquecido em conhecimento pelos espólios que têm vindo a ser integrados, tratados e disponibilizados. Atualmente o ACT inclui 20 arquivos, 13 dos quais integrados na última década: 9 pessoais e 4 institucionais. Acervos que têm vindo a sofrer a intervenção arquivística necessária para ficarem acessíveis aos investigadores e público em geral. Assim, já é possível consultar em linha 13 destes espólios.

O ACT reúne informação sobre a investigação científica que se fez em Portugal desde meados do século XX. Assim, são vários os utilizadores externos que nos procuram, essencialmente, por motivos de trabalhos de investigação, nas diversas áreas científicas. Mas, o ACT, é também um arquivo que satisfaz os seus utilizadores internos pela recorrente necessidade de consulta a documentação no âmbito de outros processos.

 

A divulgação de todo este património tem sido também objeto de desenvolvimento e empenho, nomeadamente em termos de organização de encontros científicos, 6 no total, reunindo público diversificado entre investigadores, técnicos e público em geral, sobre as mais diversas temáticas: arquivos universitários, arquivos da administração pública, arquivos científicos, atores da política científica, curadoria digital, entre outros. O ACT também marcou presença em cerca de 16 encontros e iniciativas científicas, nacionais e internacionais, com apresentação de comunicação. Foram ainda desenvolvidas e acompanhadas outras iniciativas, sempre com a intenção de divulgação do arquivo, da sua atividade e do seu imenso espólio documental. Foram ainda feitas algumas publicações científicas, nomeadamente artigos de divulgação em revistas nacionais e internacionais, e publicação de atas dos encontros científicos.

Desde 2014 que o Arquivo de Ciência e Tecnologia tem um canal próprio de divulgação, em www.act.fct.pt. Um portal que se mantém um work in progress, com base nos diversos arquivos em custódia: 21 biografias de personalidade relevantes para a história da ciência e da política científica em Portugal; 9 artigos sobre diversas temáticas divulgando conteúdos existentes no ACT.

Também em construção, uma cronologia, que apresenta uma síntese dos principais acontecimentos relacionados com ciência e investigação científica portuguesas, ao longo do século XX. Inicia-se em 1929 com a criação da Junta de Educação Nacional, privilegia factos e acontecimentos da vida nacional, referindo pontualmente eventos internacionais quando se relacionam com o contexto português. Um trabalho que se tem vindo a alimentar de um exercício de interpretação e revisão permanente dos acontecimentos, não se encontrando por isso fechado, estando em aberto para todas as contribuições externas que nos cheguem.

A FCT é herdeira de uma Biblioteca, que reúne um importante conjunto de recursos de informação, reunido a partir dos anos 80, constituído por periódicos e monografias nacionais e estrangeiras, com a tónica na gestão e política de ciência e tecnologia, história institucional e história da ciência. Cerca de 8600 títulos recuperados, catalogados e disponibilizados ao público.

E porque a história não se faz apenas do passado, mas também do presente, têm sido desenvolvidos projetos em termos de gestão da informação e da documentação, nesta nova dimensão do digital. Assim, desde 2018 que se tem desenvolvido mecanismos de desmaterialização dos processos, quer seja pela implementação de um sistema eletrónico de gestão de documentos quer pela produção de instrumentos de gestão documental essenciais à organização da informação.

10 anos de trabalho que vêm confirmar o interesse e valorizar a existência do Arquivo de Ciência e Tecnologia, o primeiro do género existente em Portugal, que representa uma fonte primária essencial para a história da organização da atividade científica em Portugal desde meados do século XX.

Este texto, sem ser exaustivo, visa documentar os 10 anos de existência de uma estrutura que funciona na Fundação para a Ciência e a Tecnologia e que se tem focado no acesso à informação e na divulgação e promoção do conhecimento.

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Cronologia

Dezembro de 2010 – Conclusão do Relatório de Avaliação de Documentação Acumulada da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Maio de 2010 – Início do processo de descrição da documentação de conservação permanente, em aplicação informática normalizada DigitArq.

Abril de 2011 – Concluída a primeira versão de um Plano de Classificação (funcional) para a FCT e da respetiva Tabela de Seleção.

Abril de 2011 – Entrada em produção do Sistema Eletrónico de Gestão de Arquivo – SEGA, permitindo a digitalização e o registo de entradas e saídas no Expediente.

Maio de 2011 – É publicado em Diário da República o Regulamento de gestão de documentos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pela Portaria n.º 194/2011.

Novembro de 2011 – Aprovada a proposta de reavaliação ao Relatório de Avaliação de Documentação Acumulada da FCT.

Junho de 2011 – Disponibilização da primeira versão do inventário do ACT em linha, através do sistema normalizado Digitarq.

Junho de 2011 – Início do projeto de tratamento e organização do Arquivo da Junta de Energia Nuclear, cuja entidade detentora é atualmente o Instituto Superior Técnico.

16 de dezembro de 2011 – Inauguração do Arquivo de Ciência e Tecnologia. Fica assim determinada a abertura oficial ao público.

2012 – Integração do Arquivo da UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento, instituição extinta por fusão na FCT.

Setembro de 2013 – Disponibilização do inventário do Arquivo da Junta de Energia Nuclear, tendo sido registados e disponibilizados na web cerca de 5500 registos arquivísticos.

2013 – Início do tratamento e catalogação da Biblioteca da FCT.

2014 – Atualização do sistema de descrição Digitarq para o Archeevo, pelo facto do primeiro ter sido descontinuado.

Outubro de 2014 – Criação do Web site do Arquivo de Ciência e Tecnologia – www.act.fct.pt – um lugar de partilha e divulgação de conhecimento.

Julho de 2016 – O Plano de Preservação Digital para a FCT recebe parecer favorável da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.

2018 – Nova versão do Plano de Classificação da FCT de acordo com a MEF – Macroestrutura Funcional.

17 de dezembro de 2018 – Entrada em produção do Sistema de Gestão Documental Documenta, permitindo a desmaterialização da maior parte dos processos da FCT.